domingo, 27 de novembro de 2011

A opressão dos comentários.


  Está aí a ditadura da era moderna. Aquela que é comandada pelas forças invisíveis dos novos valores sociais, organizacionais, da nova maneira de se dispor no mundo. E para aquele que tem um blog, um site, ou qualquer outra forma de exposição ao mundo virtual, lá está ele como um link demoníaco que faz sofrer, oprimir, questionar, medir, avaliar, enfim, deixar exposto, ou como um troféu social, ou como um maldito declarante de inutilidade.
   Esse é o papel dos comentários. Quem se expõe à rede sabe do que estou falando. Uma das formas mais fáceis de medir a qualidade do que demonstra é através deles. Os comentários estão aí como uma forma de medição, de percepção, como um ibope velado e maldito do que você coloca por aí. E é horrível ficar à expectativa de que algum apareça, de que lá embaixo o que está em Zero, chegue a pelo menos Um, Dois, ou quem sabe, Doze. Para blogs comuns, sem grandes apelos e com público restrito como este em que escrevo, chegar a sete comentários já é a glória, passar de uma dezena é o sucesso inimaginável. Impensável é um dia chegar a trinta, quarenta, ou até uma centena como acontece com os sites de grande popularidade. Mas se medir pela quantidade de acesso e dividir pela quantidade de comentários, verá que quanto maior o sucesso, menor é o retorno, em porcentuais.
   Durante muito tempo eu me mentia. Dizia que o que publicava apenas não era digno de comentário, que poucos ou até mesmo nenhum iria se dispor às vezes a comentar, ficaria no anonimato da opinião, não esganiçaria uma possibilidade de conversação, de conselho, não só de retorno, mas de um bom bate papo. Esse é o papel dos comentários que vejo acontecer nesse blog. Além de virem de pessoas próximas, não vêm só pra elogiar ou criticar, mas sim para ampliar, aumentar o que está exposto. Em sites de grande retorno, os comentários – ou melhor, o seu espaço – são destinados a elogios ou autopromoções, gente que faz propaganda de si mesma ou de seus preconceitos. Graças a Deus, essas pessoas aqui não vêm. Mas não vou mais mentir, é tão bom quando se vê apenas um só, um que seja, ali embaixo, como um troféu de consolo ou como o troféu, campeonato entre Eu, Eu Mesmo e Irene, e mais ninguém, aquela rusga de si contra si, esperando resultado positivo.
  No intuito de medir, uma vez, usei do discurso do professor desmotivado e criei um poema extremamente violento em homenagem ao dia dos professores. Joguei-o aqui no site, na minha coluna do Trema e no Recanto das Letras. Aliás, como é fácil encontrar egocentrismos em pedestal de gesso neste site.  Não nego que o poema não traduz a minha constância com o universo da sala de aula, não me ponho como um frustrado que se vê incapacitado de dar aula, por causa do marasmo e da inanição intelectual dos meus alunos. Não nego, também, que dar aula no município me requer um esforço dobrado, primeiro para contê-los – algo que nunca imaginei passar em sala de aula – e segundo para conseguir dar a aula, mostrar que o conhecimento é válido, tal tal tal. Aqui, por ter um público de origem religiosa, sei que choquei. No Trema, os comentários foram para lá de efusivos; no Recanto, alguns até se dispuseram a ler, outros a rezar por mim, ou seja, a fonte do público leu da maneira que bem entendesse, Mas em nenhum em cheguei ao resultado que esperava.
  Porém, dizer-me que não me ponho atrás de que um comentário venha, é pura mentira minha. Seria até leviano, mesquinho, me colocar num pedestal qualquer dizendo que não me contorço quando não vem e fico à espreita da espera. Acho que todos são assim. Estou, por fim, à espera do que vocês pensam. Está aberta a temporada de observação da quantidade de comentários que esse texto vai surtir. Vamos ver! Beijos a todos. 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Dimensão


Agora a pouco, minha esposa, Você não precisa ser ciumento assim, por isso te conto tudo, e fiquei pensando, sou mesmo ciumento?
Digo, sou sim. Mas por ser introspectivo, caladão quando posso, nunca fui de externar e foi com as palavras dela que cheguei à mesma conclusão. Sou um ciumento convicto, capaz agora de poder afirmar que este traço de minha personalidade está aqui, bem diante de mim, dedo em riste, Você o é, Sim, o sou, por que não?
O ciúme é a porta aberta para a doença, para a convicção da incapacidade de autocontrole, para a clarividência das fraquezas, para o argumento incrédulo, para a irracional demonstração de necessidade de preenchimento. O ciumento é um eterno carente, que na proximidade da completude, da carência em extinção, se desespera, se pronuncia com medo, fica armado para uma batalha que não existe. Cria batalhas que o põem em xeque, Por que isso tudo?, ela diz, Porque te amo, quero te proteger desses que só pensam em te usar, digo, Você é assim com a outras?, Não, elas não me interessam, a única coisa que me vale é você, mas aí já está a discussão, ela se cala com o medo de um dia você pensar em cometer crimes passionais, tão lindos nas estórias, tão inconsequente na realidade.
Você sabe que odeio armas, numa outra tentativa desesperada. Argumento, O meu problema é autoestima, você é muito gata, todos te querem, Mas eu não, e me vem a banda no dois pés, caio sentadinho sentadinho. Ela me estica a mão, me limpa, nenhuma poeira, por que será que me detém assim?
Meu ciúme é meu espelho, meu demonstrativo de humanidade. Não quero que ela pense que sou um doente derrotado nas mãos dela, mas que sou um eterno grato por tê-la comigo. Entenda, eu que nunca tive ciúme de ninguém, agora passo a tê-lo, será que isso não é bonito?

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Rabisco


                Estive durante muito tempo pensando em voltar a escrever crônicas semanalmente. É possível? É, dentro do que se considera possível.  O problema se reside na maneira como terei que me dispor e abrir mão da certeza de que tenho ultimamente: o fim do meu primeiro romance.
                Sei que já andei escrevendo sobre ele aqui para o site. Alguns até dizem que ando me repetindo ao ser tão metalinguístico em minhas análises, atuando apenas para o campo das possibilidades de escrita do que para a escrita propriamente dita. Concordo, até certo ponto, porém não nego que gosto muito dessa realidade de escrever, da sensação que precede a escrita. Cresci, por bem, lendo autores que tinham como marca a sensação da descoberta da letra, e não da letra em si, afirmada e encontrada, casada em frases. Mas daquela se vem da percepção, do sentimento de encontro com tal. Vejo que a literatura não é o encontro; é a sensação de espera por tal. Sabe aquela expectativa antes do beijo – que em alguns casos é muito melhor do que o beijo. 
                Uma situação que me ocorre sempre é estar diante da tela, prompt piscando, exigindo, aí me vem os versos de Drummond, Passei uma hora / Pensando num verso / Que a pena não quer escrever/ Porém, ele está cá dentro / Inquieto, vivo / Ele está cá dentro/E não quer sair, e ainda digo que vem na voz de Belchior, que há algum tempo musicou trinta e um versos do mestre, cada versão mais primorosa do que a outra. Lindo. Lindos. A literatura é a sensação e venho-a curtindo tanto, mas tanto, que estou conseguindo escrever um romance.
                Acho que foi esse o problema com o primeiro. Epopeia Insignificante – que muitos podem acessá-lo aqui pelos marcadores do blog – me custou muito. A sensação de escrevê-lo partia mais da responsabilidade do que prazer. Algo que está diferente com esse atual, que resolvi guardar todos os detalhes para mim antes de mostrar a todos. Para alguns eu até já falei, mas não cheguei a descrevê-lo em seus pormenores, por um detalhe bem simples: eles não existem. O ritmo da escrita está se definindo por ele próprio, cada parágrafo não sabe que será parágrafo; cada linha não muito menos se conhece. Isso é que está sendo ótimo. Não tenho domínio sobre o texto, apesar de pensá-lo, imaginar até onde quero chegar, definir roteiro, literatice, mas para cada pensamento há algo mais vivo, maior. Num primeiro momento até pensei, Não sou capaz de escrever, pois tudo que penso se perde, essa entidade chamada Literatura não aceita o que quero, ela tem pena de mim, por isso escreve por mim, dessa maneira eu estou chegando a um livro. Esse foi o meu maior sonho durante muito tempo.
                Hoje o meu maior sonho e continuar escrevendo, ou estar diante da sensação da escrita. Às vezes, trânsito, penso num poema que nunca escreverei, mas lá está, sendo pensado, digerido, raciocínio, uma rima, vou tirar essa rima, e não anoto. Nada. Alguns até decoro e uso num texto ou outro, certo de que ele está entrando ali porque o texto quer, não imposição.
                Chego ao fim dessa crônica não pelo intuito de escrevê-la, mas porque assim ela quis. É só o ato do rabisco, mas sem papel, digitação. Um gosto eterno pelo prazer do pensamento.  

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