sábado, 31 de julho de 2010

Intrusas

Foi-se assim
em corte
a lamber
minha carne
abrindo-a

Com essa sua faca
não-
cega
foi até bem ao fim
do limite que meu corpo poderia suportar

Lá dentro
intromissão
foi corte
e ponte
da certeza
de que lá sempre há de ficar

E como firmeza
em riste agonia
tornou-se eu, a mim me é eterna
essa sensação de sempre te ter aqui comigo

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Só isso

O pior não é aceitar que já não há mais um futuro, mas sim pensar que o passado acabou e o presente já não pode mudar isto. Sumir é ser covarde, sou covarde ao não querer te ver e hipócrita ao dizer que não, não sinto mais nada. Mas será que as palavras ainda dizem mais que o coração? Ser forte não é chorar escondido e sorrir na sua presença, é apenas tentar ser forte, tentar enganar e tirar você da cabeça quando insiste em não sair do coração, é fingir jogar um jogo de paciência em que no final tudo volta ao seu lugar. Parece autêntico, verdadeiro, mas são palavras, apenas palavras. Palavras que não dizem, não expressam, não amam, nunca vão amar, eu posso dizer ao mundo que te odeio, seria a maior mentirosa, mas poderia. Para que mentir com as palavras se o sentimento não diminui com isto? Não faz sentido. Se fosse real, eu passaria as noites escrevendo tudo que poderia acontecer ou o que eu poderia sentir, mas ao invés disso, passo essas noites, pensando, pensando em como seria se você estivesse aqui, como seria se você ainda fosse meu, só meu. Ou até mesmo como seria se eu não tivesse te conhecido, e definitivamente paro de pensar, pois mesmo sem você comigo agora, prefiro assim, não me arrependo de nada.
São tristes as manhãs que prometem mais um dia sem você, são tristes as noites longas que cumprem a promessa. Mas amor não se implora, não se pede, se tem por merecimento. E não tem como eu dizer: “ei, seu bobo, será que você poderia me olhar, pois estou aqui, esmagada, com a sua presença?” ou ate mesmo: “será que você poderia me abraçar como se estivéssemos caindo de uma ponte, porque eu estou no chão com a sua presença ?” nem mesmo poderia falar: “teria como me beijar como um beijo de final de filme, porque eu estou aqui, sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença?” Não, melhor não, definitivamente eu nunca poderia dizer isto, são coisas que não se falam. Ate porque, amor não se pede, é uma pena!
É uma pena correr sem ter algum lugar pra chegar. É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha, ser apenas alguém que constroi sonhos sozinhos. Mas não posso ligar pra você e dizer: ”estou sofrendo aqui, vamos parar de estupidez de não amar e vem logo resolver meu problema? `` Mas amor não se pede, dá raiva eu sei.
Eu esperei você desviar o olhar para eu entender que estava indo embora, esperava um ultimo abraço para perceber que não mais sentiria a sua pele macia em meus braços. Mas agora, o que seria mais triste, continuar com o que não teve um começo? Por que acabou, se ao menos começou? Eu lamento, e só. Você não imagina o quanto eu amaria ter você aqui, agora. Parecia estar numa brincadeira que tem fim. Tem fim e teve fim. E eu estou aqui, cansada de ter brincado, mas querendo mais. Quero mais com você, e aí é o meu erro, preciso esquecer dessa brincadeira que sai perdendo. E sem alguma outra saída, eu fico bem, por apenas saber que você esta bem, eu gosto muito de você, e eu nem posso mais te amar!
É como se tirassem o gosto de um doce que você amava tanto, e depois você comesse cinco desses doces seguidos, pra ver se em algum momento o gosto volta. E no final, você fica mais triste, pois percebe que independe o numero de doces que você coma, o gosto jamais vai voltar.
É triste ter tanto amor querendo escrever uma historia, mas só escrevendo um texto. É triste saber que falta algo e saber que isso não se compra, não se substitui, não se esquece, nem ao menos se implora. Mas amor, você sabe, amor não se implora. Amor se declara e sabe de uma coisa? Você sabe, você sabe!
Eu sei o quanto é cansativo correr da dor, mas pra que parar e esperá-la? Não faz sentido. Vou correr até eu não aguentar mais, e nessa hora eu burlo cada súplica do coração para que eu pare e sofra um pouquinho, um pouquinho que seja para passar.
E para que vender tanto o meu corpo e tão pouco minha alma? Porque quero você comprando o que realmente quer e não enganando querer levar na promoção. Cansei de promessas de compra e das devoluções daquilo que você não queria. Cansei de expor minha alma se no fim tudo acaba. Então, está tudo aqui, a perna, a barriga, o rosto e o enorme buraco que me deixou. Cansei de idealizar um amor que não existe, um amor que não dura pra sempre, e só por isso já não é amor. E se “nada dura pra sempre” o amor não existe. E na verdade é que nada é inteiro porque até o inteiro para ser todo precisa ter seu lado vazio.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Meta-escrita (ou “meta-eu”)

Depois de longo de abissal silêncio (pelo menos sentido) volto a escrever. Esse tempo me permitiu, além de perder boas oportunidades de textos, pensar em porque não escrevo.

Não escrevo para arrumar ou comprar brigas; para conseguir amantes; achando que sou necessário para meu leitor (assíduo, fiel, infiel ou ocasional) ou em nome de algum tipo de arte. Não escrevo igualmente por dinheiro ou por fama em qualquer nível; por reconhecimento (verdadeiro ou fingido, esse também me interessa!); para “ser achado” ou para parecer sexy.

De fato, descobri que escrevo por uma razão simples, irritantemente simples e que talvez até soe algo piegas: escrevo porque preciso escrever! É corpóreo. Fisiológico. Eu sangro palavras, transpiro preposições e artigos, ejaculo motes! Escrevo como quem pula do Everest ou quando nos vemos – e, graças à minha boa estrela, tive pouquíssimas experiências nesse sentido – meio bêbados, olhando para o fundo de um copo como quem buscasse algum tipo de verdade ou resposta e pensamos: “O que é afinal? Uma dessas noites longas … Ou uma vida longa?”

Não me importo se escrevo verdades ou mentiras; o que vivi ou o que gostaria de ter ou não vivido; se “isso” é o que realmente eu sinto ou se estou apenas inventando. O que me interessa, o que me seduz, na verdade, é o possível. O plausível. Aquilo que pode (ou poderia) acontecer com qualquer pessoa que tenha respirado os ares desse mundinho deliciosamente confuso. Embora nisso, como em todo o resto, Quintana seja bem mais lúcido e brilhante que eu: “Mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”

É exatamente isso! Estou de volta e espero que vocês gostem!

Um novo retorno

Sei que foi muito tempo sem apresentar algo fixo aqui. Mas aí está, ao momento uma mudança estética. Um outro detalhe: retorno de nosso ilustre colunista André Nogueira, alguém por quem eu fui atrás para escrever de volta.

Ah, uma fofoca: estou como um dos colunistas da Bienal de São Paulo, no próprio site deles, na parte de blog, junto com o grupo literário Trema, de quem também faço parte. É só acompanhar.

Ainda darei outras novas notícias, essa parada foi pedida, agora estaremos de volta a todo vapor.

Um beijo, e obrigado por acompanharem o grupo.

Márcio Calixto - Grupo Literário Pictorescos.

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