quinta-feira, 28 de maio de 2009

Atalhos e nós!



Acabei de ler Tati Carlotti, uma menina que não sabe, talvez, o volume do meu apreço e admiração que tenho. Mas não só o fato de lê-la – uma vez mais – foi também o fato de ter constatado a voracidade que seu coração consegue destilar sentimentos. E será deles, principalmente na sua maneira-Tati, que venho a falar.
Ali, em seus Atalhos, há um quê de maestria. Ela sempre me pareceu ser aquela típica pessoa de olhos que ouvem e ouvidos que veem. Sempre a vi tão sensorial, tão humana e viva que não pude constatar o mais do que óbvio: ela pulsa vida. E pude mais uma vez sentir saudade de um passado tão recente, mas também tão cheio de nostalgia.
Uma vez me disseram que a sensação da Nostalgia é a lembrança de um passado gostoso, somado à constatação de sua velhice tão premente. É, foi isso sim que eu tive quando li, Vidal, tome vergonha, atualiza o seu Muquifo. Gostaria, sendo sincero, que outro muquifo fosse atualizado.
Para aqueles que não sabem, tanto eu, quanto Tati, Vidal, Flávio, Luciano, Amanda, Rodrigo, Winskow, Nilo e mais uns tantos dos bons fomos das Bagatelas. Como aquilo era produtivo. Como havia vida naquele site. Como estávamos fazendo surgir. A coisa estava dando certo. Mas um dia ruiu, só que a poeira ainda está alta, como se ainda possuísse firmeza de alma.
Sinto uma falta fudida daquilo. Não só pelo grupo, pela literatura, mas pelos seres humanos que existiam naquela reunião. Em todos os nossos encontros, todos, sempre havia muita humanidade, muita descontração, atrelada a uma ambição ambiciosa dessas de executivo de empresa nova, mas sem ferir nossa arte, nosso brio. Sabe, era bonito de ver tanta gente junta rindo literatura, conversando com cerveja e uísque e trocando salaminhos. Gostaria muito de que aquela onda toda voltasse, com os mesmos personagens e agentes. Será que é muito difícil viver nostalgia de passado sem soar pedante? Espero que não, pois quase faço um apelo a todos para que aquilo se some mais uma vez.
Tati, em especial, era a síntese dessa graciosidade. A primeira vez que a vimos, quando estávamos no aeroporto, a sua voz doce, o seu andar calmo, uma quantidade enorme de malas – Poutz, não nega que é mulher, disse um amigo – percebemos que se tratava de uma menina grande ingênua, sim, já casada, mas doce como boneca frágil de porcelana. Parecia até que a porcelana fosse de açúcar também. Stevia, para manter a forma.
Tenho uma foto no meu orkut que é a síntese do que pensava. Sim, essa mesma que está aqui no início. E até hoje penso. Éramos amigos, surgidos na literatura. Só que muito maiores do que a ambição pela escrita. Ali havia fraternidade. Havia um respeito. Tati era um tanto da síntese disso e por isso eu preciso compartilhar de sua mesma frase. Vidal, atualiza o “muquifo”. Mato minha saudade do Rio em seus personagens. Concordo!

sábado, 23 de maio de 2009

Todo esfíncter é rei



Frase comedida em entrada de prédio, é o que penso, toda vez em que me dirijo pra casa. Não adianta recuar, pedir arrego e fazer o que bem quiser – até jura – mas todo esfíncter tem vida própria. E sarcástico como é, avisa antes sem total discrição que vai conseguir o que quer. E parece que o safado gosta mesmo é de elevador, quando este sobe, ele se atiça.
E na verdade, ele se atiça por qualquer coisa que sobe. Quando então percebe subida, parece querer mostrar para o que veio. E é isso, se cresce pressão na frente, ele avisa que vai jorrar; se cresce atrás, arreia de medo e demonstra a força de sua existência. Nos últimos anos, porém, sempre vi que a força do esfíncter de alguns se firma quando se vê o crescimento por aí. O esfíncter é dotado de uma frustrante intenção de medo que duela com a capacidade de controle daquele que julga ser dono deste. Esfíncter manda, e ponto final.
O problema mesmo reside quando se está com o esfíncter na reta. Ele se recua, olhando o fundo da situação, e solta o que tiver de arma para se defender. É aí que se joga sujo, ao deixar o ambiente tenso. Tenso, pois os vários detentores estão buscando um culpado para quem dirimir aquela nuvem de baixo astral. A isso chamo de vento: denso, pesado, forte, pestilento, sorumbático, em miúdos, desnecessário. Mas vai dizer isso pro esfíncter que liberou a bufa. Ele não respeita ambiente, classe social ou momento. Libera, libera-se, coordena, impulsiona as vertentes das escolhas daquele que se sente pressionado, em tantos, faz o mundo perceber que ele ali está pra comandar. E como mesmo disse, ele entra em ação quando percebe o perigo ao seu redor, atiçando a si mesmo quando vê escalada de crescimento.
Mas a fisiologia é fantástica. Ensina a quem tem capacidade de ver. O ambiente é livre, democrático, e nem um pouco opressor. Mesmo o ânus, oprimido por arranha-céus de nádegas gigantescas, tem seu espaço garantido. Por isso é que vale o ensinamento: um esfíncter sozinho não tem a mesma capacidade do que esfíncteres unidos. E quanto mais há juntos, mais eles podem fazer entre si. Percebi isso esse fim de semana, quando fiquei até zonzo de tanta capacidade esfincteriana. E foi a união que conseguiu unir tantos e fazer aqueles ali rirem, mesmo depois de horas de viagem, tanto na sala de um quanto no carro do outro, nádegas sentadas e raciocínios a mais de mil. Foi o esfíncter, mais uma vez, o único capaz de comandar a festa. E haja fogos de tanta conquista.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O mundo nos faz fechar os olhos

Sempre me questionei por que os adultos são tão sérios? Tinha me prometido, ainda criança, que sempre manteria o espírito de criança durante a minha adolescência e minha vida adulta, não me fechando, mas ainda deixar resplandecer uma gota da minha inocência, daquela mais gostosa inocência que nos confere um ar de humildade. Acho que nessa crença é que encontro o meu erro. Viver como um homem de vinte e cinco anos não me dá outra arma a não ser analista. Pesquisador dos defeitos dos outros e das armadilhas que podem pensar contra mim. Suspeitar da risada mais alta dada por um alguém que conheço somente no ambiente de trabalho. Encarar de forma velada as ações dos outros. Saber que nos meus passos há câmeras. E que no esporro do meu chefe há a única visão dos meus sapatos.
É estranho não confiar na palavra da minha enamorada. Suspeitar que ela meramente não foi pro shopping aquele dia. Não deixar tão clara as minhas intenções de futuro com uma pessoa que toma cerveja comigo há tempos. Criar razões próprias baseadas em noções próprias, trancafiadas em visões próprias e que não são bem-vindas para muitas pessoas. Pensar que sou diferente num mar de diferentes. Olhar que todos que vestem o mesmo uniforme estão querendo mais destaque do que os outros que também vestem o mesmo uniforme há anos. Que há experiência comprovada no novo currículo mais sincero. Que o gerente não cresceu somente por causa de sua lábia de vendedor. Que meu cartão de crédito não é troféu social. Que meu carro não é reflexo da minha qualidade profissional. Que minha barba por fazer só signifique tristeza. É estranho suspeitar dos maltrapilhos, enquanto que minha conta é limpa por engravatados brasilienses. É horrível manter uma conta escondida para que minha esposa não me sacaneie. É angustiante guardar dinheiro para um apartamento de sonhos limitados. É vulgar querer saber o que pensa de mim. É um tanto quanto desesperador sair pra trabalhar sem saber se a carteira ainda está assinada. É entristecedor querer jogar playstation e assinar as papeladas. Enquanto que é fácil ler o jornal ao ver a fila de desempregados cruzando a esquina. Ou o sujismundo barbudo que dorme bêbado debaixo da marquise de um boteco falido por causa de uma pastelaria chinesa. Não anda tão fácil ficar caminhando para se chegar ao trabalho e ver crianças fingindo tristeza nas esquinas de picadeiros malabaristas. Enquanto que é tão barato manter um seguro de automóvel e colocar potentes vidros fumê. Um real eu não tenho, nenhum trocadinho, desculpa. Ver gente jogando água no meu vidro e suplicando dez centavos. Desculpa, só tenho uma nota de dez. uma nota de Dez Culpas.
É não crer que crer em algo é besteira. Que manter uma crença é irracionalidade. Que dizer que crer é bitolar-se. Que se crer em um outro hoje em dia é burrice. Que não haja mais profundidade nas coisas. Que o meu mais novo relacionamento tem data de validade curta. Que meus amigos estão meus amigos, pois meu crédito no mercado de trabalho é mais amplo que os deles. Que faculdade, algum dia facilitou alguma coisa. Hoje em dia, faculdade só dificulta a aorta. Que minhas coronarianas nunca irão entupir. Que essa dor aguda no peito seja só gases. E que muita das coisas que escrevi sejam meramente besteiras.

Não espero o dia em que, felizmente, terei netos, pois sei que o meu mundo um dia, algum dia, será simples e com humildade. Também espero não ser privado dessa realidade pela minha estranha vontade de me encontrar com uma bala perdida. Espero ter escrito a maior das baboseiras, pois, ainda, eu só tenho vinte e cinco anos.
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- Meu amor, posso voltar a dormir de novo e zerar Sonic
(texto publicado originalmente em Bagatelas - revista de contos)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A dose do corpo

A dose do corpo
Uma vez mais era o irretoque. O irrespirável. O frio próprio. Era a falta de calor dos homens, era o tudo tão incompleto. Era sua voz-agulha cortando como espada. Era 1h45min da manhã.
A Dose do Corpo (Com olhos virados pra fora)
Ele se forçava para subir os últimos lances de escada. Carregava o cheiro cruento do trabalho soturno de matar gente, embutido nos grossos rebocos caídos daquelas paredes velhas. Aliás, o mundo era velho. Tudo era destroço, era resto, era negro. As pilhas de escombros muros atrás consumiam a tranqüilidade dos restos humanos vivos transfigurados como bolhas sedentas por carne humana viva. Há anos era tudo feio, e ele era o último a tentar consertar.
Na primeira parede que via ao abrir a porta, havia o quadro de uma arma dizendo: “a salvação pode estar bem mais próxima”. Mas nunca teve a sorte do engano de uma bala. Era policial num mundo onde a polícia não salvava a si.
Porém, a corrupção que o tomava era a da saudade. Fora obrigado a matar mulher e filhos depois que o mundo se envelheceu. Havia novas divisões sociais e ele fora dos quatro o não contaminado. Não suportaria vê-los se transformando em câncer quando as bolhas em seus corpos estourassem. Estourou-os antes, matando por último a esposa, de quem sentia mais saudades e ainda o gosto de sangue invadindo sua boca quando atirou no último beijo. Até ali os escombros eram suportáveis, depois ajudou a colocar todas as cercas. O mundo era uma grande redoma de áreas não infectadas. Nas outras partes havia homens com cânceres a mostra. Deixados para morrer no soslaio da desilusão. Mas todos morriam aos poucos. Todos tinham noção do próprio limite de vida.
Para Sarcantus, nada disso era tão diferente. O que apenas o aniquilava mais era sua covardia em não se matar. Vendo-se ao espelho, barbudo, decrépito, magro, com cabelo desgrenhado e a arma tradicionalmente garganta adentro. Bart, seu gato, arrastava-se-lhe as pernas. E a arma era guardada mais uma vez. E por mais que relutasse, o seu único traço humano estava em matar pessoas.
Saia toda noite pelos fundos do seu prédio. Alimentava-se daquilo que não estivesse vivo em sua geladeira e pulava os frágeis muros da Divisão. Aprendera com o tempo que era melhor matar famílias inteiras de deformados ao invés de um só. Percorria ruínas algumas à procura de gente para ser salva. Viu duas crianças, gêmeas, com no máximo três meses de vida. Afastou o pano que as cobria com o cano esfomeado de sua espingarda e viu que a bolha no peito era nova. Se a ciência não tivesse desistido tão cedo, elas até teriam alguma chance. Criança quando explode, esparrama pelo chão. O barulho chamara a atenção de outros dois que correram, mas a perna de um não tinha mais capacidade de ser perna, e antes dela se destacar do corpo daquele corredor, Sarcantus fez questão de ajudar a natureza. Um riso no canto da boca o surge e os olhos trincavam-se ao entender a fundição de sua alma para aquele trabalho. Não se sentia nem leve nem pesado, sabia somente para onde atirar. Olhava pra baixo, o braço acompanhava o gosto da arma, que se conduzia viva, íntegra, soberba. Era um gosto único, discreto porém, ver pessoas explodindo, desintegrando-se. Gostava mesmo de atirar nos próprios buracos do câncer e, vê-los pulando na distância física da força, era de um prazer único. Foi o que fez com o segundo, ao presenciar que a vida já não era mais tanto a favor. Não mais possuía os lábios, os dentes estavam à mostra e o resto da face era corroída pela desgraça. Dava para ver como as gengivas também estavam cedendo àquela corrupção cancerígena. A arma sente o cheiro podrento e taca forte salvação. Sarcantus senta, vazio da munição graciosa.
Não se podia dizer que ali havia sido a melhor noite. Perto do corpo gelatinoso do salvo rapaz, dava para ver que aquele ainda era jovem. Em sua mão esquerda havia uma aliança reluzente, de prata, mas reluzente. Escutava ao longe o choro forte de alguém. Nas ruínas, as luzes eram de velas, e apenas algumas ao longe ainda brilhavam. Era um choro de mulher, escandalizada. Ele a tirou da mão do menino, passou a mão pelos bolsos e puxou uma foto. Havia uma família naquela foto antiga. Era de antes da guerra. Possivelmente ele era um daqueles meninos em meio a tantos outros meninos. Alguns estavam rabiscados, junto com os dois mais velhos. Deviam ser os pais deles. Com a unha, Sarcantus rabisca mais um, que possivelmente não fosse o deitado. Mas quem se importa com excluíveis? Era apenas mais uma nota em um boletim de vida, como há nos tantos boletins da delegacia em que trabalha. Sentado, escutando os choros, ele guarda a foto e a aliança. Vira a arma pra si, mesmo sem munição. Fica admirando aquele corpo sem vida, como se quisesse trocar de lugar. Sarcantus dorme, na esperança de que alguém saia dos escombros para tentar salvá-lo também.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sua Voz

Sua Voz
Flâmula flagelada de instinto, via-se o rapaz infinito limitado de gosto. Parecia vivo apenas pela mera capacidade de respirar. E por mais que em seu íntimo buscasse criar o mais belo sentido de vida, sabia que estava vivo apenas para obedecer. O senso básico do seu sonho está em enraizar esperança onde se dói mais a pele. Nele havia um jardim infinito de flores coloridas de azul, branco e vermelho. Todas guardadas apenas para ele.
A cada dia, ele escutava a voz de sua mãe. Uma distinta senhora psicóloga, controladora de mundos. A cada vez em que ouvia aquela voz, seu doce campo aumentava hectare por hectare. Adora entrar lá no fundo, na berlinda da criação, vendo como chão surgia a sua frente, inundando-se de flores coloridas. Mas em nenhum momento se esquecia de cada grão de voz que fez cada grama de chão nascer. Olhava para trás e via algumas flores reluzindo no brilho da memória. Não ficava triste ao ver alguma flor morta; sabia bem que um dia iriam voltar à vida. Era o revigorar da lembrança, que a cada momento se fazia vivo quando se revive alguma dor.
Passou os últimos anos vivendo no mundo próprio. Voltava sempre no meio do campo, bem lá onde não havia flores, pois encaixava o nascimento dos seus pés. Foi a primeira flor viva naquele mundo que guarda cada palavra sacrílega. E todas não tinham o pingo do brilho carinhoso. Eram sempre duras, ferinas e precisas. Com o tempo, passou a não mais se chatear com tanta falta de carinho, mas passou a ver que os campos estavam se fazendo morros, os morros, planaltos, os planaltos, montanhas. O sol ali nunca brilhou, mas ele sabia como iluminar seu próprio canto.
Com o tempo, viu que passaram a aparecer algumas cavernas e lá suas flores não entravam. Sentia o medo vindo daquele escuro; isto se explicava como motivo delas estarem recuadas, deitando-se ao vento que saia de lá. Tremia-se frio forte, braço que fraqueja fraco ataque. Tentou chegar perto daqueles túneis de dor, mas via se murchando, como que sugado. Tomou coragem e para dentro de um foi. Arrependimento. Viu flores decaindo lá de dentro. Luar onde brilho não brilha. Lugar onde corda de pescoço tem vida. Lembrou-se daquela corda de pescoço. Às vezes, sentia severa saudade.
E lá dentro o vento piava a voz de mundo. No brilho gigante daqueles óculos nervosos, escuta o grito agudo da desorientação. O vento feria gritando “anormal”, “deformado”, “estranho”, palavras-adubo de outras flores, as que esburacaram o seu mundo. Conseguiu sair correndo, vencendo a supremacia da tentação daquela corda, de raiz didática a todos os outros. Sabia ainda que não estava apto a ensinar. Só ainda lhe faltava a coragem para ensinar.
Do chão que subia perto daquela caverna, viu vários outros gritando a feiúra do mundo sobrenatural. Num deles viu seu pai chorando uma culpa não-existente, pedindo para todos serem o que não eram. Havia uma placa na caverna, declarando-o volátil. Saiu de cima das breves colinas e correu para seu campanado. Sabia que era dia de chuva, e lágrima de céu não-vivo limpa a terra temporariamente. Era um bom alívio.
João abriu os olhos e se vê preso no próprio quarto. Deitava-se no chão, para não desarrumar a cama. Tudo estava em seu lugar, como fora feito por ela. A milimetria do mundo clarificava aquela essência de grito, que se exclamava pela casa toda, ordenhando a vida de todos. O mundo era de sombras onde o brilho se fiava sem vida. Era um campo tão imundo de pureza, era aquele João Silva Campos apenas respirando, como fora feito para ser.

sábado, 16 de maio de 2009

Pause


A morte não é um palíndromo da vida, ou um acróstico das forças divinas; a morte é, na verdade, uma descontinuação. Ela é fruto do vício de se viver, das nossas necessidades de muito querer, dos excessos. A morte não é só o equilíbrio que há em tudo que existe. Para o barulho, há o silêncio. Para a noite, o dia. O início, o fim. A morte, como a vida, foge desses preceitos. A vida surge do excesso do pecado, da característica animal do amor e como ato de divindade, nascemos do entremeio do que expelimos. A morte não é só consequência da vida, ela é a libertação quântica da alma que se aprisiona de experiência. Quando chegamos aos cinqüenta, temos a clara convicção de que conseguimos viver mais. Temos nas mãos a supremacia de se ter vivido bastante e que ainda nos resta alguma força juvenil. Alguma. Mas aos cinqüenta, a última fase da vida adulta, ainda há a ideia de que nunca morreremos. E morremos.


Ou melhor, descontinuamos. Passamos a deixar de sermos pessoa com corpo e vivemos na inexistência da completude. Não há mais aquela soma, ou unidade; temos a dissolução. O problema é o tempo que isso leva da gente que aqui ainda fica. Sim, estou afirmando que existe alma, outro lugar e et ceteras, e que após isso aqui há um outro parecer de chance. Como disse, parecer, pois ninguém voltou de lá diretamente para contar. Mas essa semana as coisas passaram a ter um outro sentido.

Meu sogro faleceu. Depois de dois meses murrinhando sobre uma cama, ele não resistiu. Todo mundo teve a impressão de que ele desistiu da luta, não queria mais estar por aqui, apesar de todas as preces e rezas. Participei de novenas, grupos de oração, correntes de energia e o escambau, tudo pelo coroa. Queria também que ele estivesse aqui, mas depois do que vi sei que ele iria sofrer muito. Seu corpo era outro. Não me era aquele cara de certa vitalidade, rabugice, grosseria na língua ou cerveja na mão. E por essa total incompletude, corpo e alma resolveram se desfazer. Muita gente sonhou com ele antes de sua morte, outros já podem até conversar com ele, não irei entrar no mérito, só sei que o vi rindo ao ser enterrado. Estive com ele quando deu entrada no hospital, e também estava lá para vesti-lo pela última vez. Eram duas pessoas muito distintas. Tenho certeza de que não se conheciam. E para evitar brigas maiores, esse período em que eles o mesmo estiveram travados na cama foi um período de se conhecerem.
E resolveram dar um tempo, saírem dessa, um pause. Uma parada repentina para se chegar a um outro ambiente que lhe era mais calmo. Sempre declarou que nunca ficaria travado em uma cama, que era seu pior pesadelo. Pelas forças do destino, foi o que lhe aconteceu. Algo como tipo um castigo. Mas, depois da chance dada, reconhecido o castigo, preferiu a escolha do tempo. Não querer mais ser aquele e ir para outro lugar, descontinuar. Tenho certeza de que ele queria viver o crescimento dos netos, questionar a ação dos filhos, ser enérgico sem ser grosseiro, amoroso ranzinza, bruto delicado. Um equilíbrio que lhe era comum, mas que não é para a morte e a vida. Elas são duas irmãs errantes, a agirem independentes, sozinhas, mas tão próximas. Uma sabe dos defeitos da outra e se questionam. A vida traz a luz ao mundo, dando chance para que a experiência forme olhares e vontades. O excesso delas, ou sua compreensão, faz a morte agir. Ou como uma ensinadora, ou como invejosa, ela ceifa a alma da vida e a leva para outros ambientes, que dizem serem melhores. A morte abre outros mundos, liberta a alma do corpo, dando-lhe novas chances. Mas não gera o fim da vida, gera uma quebra, uma interrupção, ou fuga de ritmo. É essa sensação com que aprendi a conviver essa semana. Sei que meu sogro não está mais aqui, que deu apenas um tempo na dor que sentia, mas que vai voltar logo logo para mais uma cerveja e um cigarrinho importado do Paraguai.É, eu sei que vai. Dá-lhe, Tuninho. Tenha uma boa estadia

sábado, 9 de maio de 2009

chiqueiro nacional


Aproximadamente uma da tarde. Medindo meu prato de comida pelo já referido motivo, tenho o cuidado de não pegar os pedaços de linguiça no macarrão. Não posso ingerir carne de porco devido a um tratamento médico. Frito o bife, sento a comer, ouvindo um noticiário no rádio. E eis que ouço pela primeira vez o que seria o mais novo mantra das comunicações jornalísticas: Gripe Suína!

Casos no México, EUA... A Europa, depois da peste negra, talvez se veja diante da peste rosada. E no Brasil também apareceram os casos. E o alarde é palpável. O rosto dos âncoras nos jornais de todo país é deprimente, envolvente, apocalíptico. Técnicas de proteção, máscaras de hospital, máscaras "bico de pato". Até remédio já foi criado. Não sei como ainda não apareceu uma ONG do tipo Todos Contra a Suína (para a felicidade dos corintianos)

E o fato é que, comparado com outras doenças, que realmente foram devastadoras, essa gripe suína é nada. O Apocalipse quase foi antecipado por causa de um catarro de porco mexicano. Palavra de especialistas que, essa gripe mata, não porque seja um tipo especial e destrutivo de gripe, mas porque é uma gripe. Quem morre por causa dela é porque já estava debilitado, e com a gripe, seu quadro foi agravado. Palavra de especialistas.

Mas o fato que quero chamar atenção não tem nada a ver com porcos, catarro nem burritos... E os cartões corporativos, pararam? E as passagens de avião para os políticos? E a mansão do senhor Edmar Moreira? Enfim, percebem? Sempre que aparece um escândalo político, quando se acendem as luzes no quarto escuro de Brasília e se mostram as baratas, morcegos e vermes escondidos [nem tanto ...] rápido rápido aparece um João Hélio sendo arrastado... Uma Isabela Nardoni sendo jogada do prédio... Agora esse maldito porco que fez o favor de espirrar no sombreiro d'um infeliz... E lá se vão semanas falando, e se mobilizando, e falando, e fazendo enquetes no nosso site, e falando, e fazendo o bingo de novos infectados (14... 30 na Europa... opa, mais um nos EUA... olha, 5 no Peru). E aí, a gente esquece. Como os próprios jornalistas parecem agir em todos os noticiários: [cara fechada, quase se sente a compaixão] enchentes no nordeste, famílias desabrigadas pela chuva, a situação é calamitosa [subitamente, um sorriso sereno e dentado] agora futebol... "brasileiro tem memória curta" e pela facilidade de se distrair, talvez deficit de atenção também.

Povo brasileiro, povo lindo tupiniquim, não temam os porcos resfriados, antes, repudiem os fartos e saudáveis suínos que povoam e gozam a bacanal livremente [e com nosso consenso] nas câmaras de nosso Congresso Nacional.

Lembrai. Cobrai. Sejais povo, não massa. Sejais livres, não enganados.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Livros só mudam pessoas

Exponho aqui um blog em que participo e cuja iniciativa acho muito boa.

Criado pelo blogueiro Sérgio Pavarini e com vários outros colaboradores [inclusive eu! hehe], o blog tem o objetivo de incentivar a leitura, pura e simplesmente.

O conteúdo do blog é basicamente composto de trechos de livros que os participantes estão lendo, que são postados.

Eu gostei, e se vc quiser dar uma conferida, clique no banner a baixo


Livros só mudam pessoas

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Repetição

Há um certo tempo, venho martelando um mesmo tema com os meus alunos: o distanciamento entre as pessoas provocado pelos excessos tecnológicos. É quase como um clichê, venho-o trabalhando incessantemente, sempre quando me há uma brecha para destilá-lo, assim o faço em minhas aulas. E hoje não me foi diferente, ele se encontrou comigo e fomos de mãos dadas na aurora do discurso.

Mas por que o tenho tanto para mim? Foi isso que me perguntei ao voltar para casa. E parece que minha incessante vontade atrelada não somente a uma percepção, mas à constatação de minha velhice tem me feito dizer que devemos nos apegar mais às pessoas. E sim, numa demonstração oblíqua de minha ação didática, indistintamente estou me mostrando carente.
Tenho pedido, como se levantasse uma bandeira, sejamos mais próximos aos outros, deixemos de nos apaixonar por uma foto, ao invés de digitar, conversemos. E como num discurso bobo e interminável, vou comendo as horas de minhas aulas tresvariando carência em pedagogia. Por sorte, meus alunos não veem o outro lado dessa moeda, não por incapacidade, mas por aceitarem o papel didático. Seus rostos e cabeças a confirmarem não somente me faz ver como entendem o que falo, mas também como estão intimamente carentes. Expressões como tedollumuitu, beijux, não são apenas transformações linguísticas do novo português, são o apelo desesperado, quase que um grito, de um mundo que está sofrendo de carência crônica.
E aí vejo, não sou só eu, pré-internet, pós-msn, que clamo pela atenção humana; somos todos nós usando do recurso da internet, jorrando sentimentalismo pela necessidade de aproximação. Sim, podemos viver a era da estética, da foto de belas poses, da câmera digital que não nos deixa mais vendidos para aquele que um dia revelou nossas fotos, da distância do convívio por causa do mundo digital, mas a aproximação virtual é falsa, inócua, balela de última hora. É como bala de menta para disfarçar a fome, só que a fome ainda está lá.
Pode até ser estranho eu falar de carência, pois sou bem casado e tenho uma menina para chamar de filha. Mas quase não as vejo, e quando estou com elas, tenho minhas obrigações, que acabam nublando minha noite, desfigurando meu sorriso, sufocando minhas ambições. Não que eu queira o computador, ou apenas ficar com elas, mas a lógica da perfeição imposta pela informática nos fez diretamente acabar com a qualidade de nosso cotidiano. Eu quase não posso ficar com minhas meninas, pois tenho que digitar minhas provas. Meus alunos marcam horário na sala de bate-papo tal para jogarem pela rede, e não mais o futebolzinho. Até para rodar pião eles têm um programa específico. É, estar junto passará a ser analisado como nostalgia de uma época que foi vencida. Sim, mais uma boa coisa do passado foi vencida.
E para aqueles que conseguiram me ler até aqui em baixo, que assim vieram aqui pela identificação com a carência, com a falta, ou com o que seja, não peço para que desliguem o computador, mas que no cubículo ao lado da lanhouse ou no quarto ao lado do seu existe uma pessoa que ainda pode ser uma pessoa, e não um recluso extremista na virtualidade da internet. Não é para abraçá-la, mas ao invés de apertar o send e enviar uma resposta, toque-a no braço e diga, vamos sair e bater um papo? Se mesmo for difícil, então deixe que as pessoas falem contigo e vença essa timidez pós-moderna idiota, pois conversar vai se tornar algo raro, algo que poderá até ser cobrado nas provas futuras.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Entornos de uma sombra aurora

Não era de lhe mais belo os antigos olhos, nem mesmo era assim a pele. Não era de lhe mais bonito os cabelos escorrentes ou até mesmo a elegância das roupas, havia envelhecido, por si, os anos da juventude. No entanto, estava muito aquém de ter atingido a velhice em si. Houve o puro fato de uma corrupção própria ao deixar-se re-cair fabulosamente nestes poucos anos que passou unicamente lendo. E por pouco, não mais do que um tanto pequeno, o céu daquelas obras imprimiu-lhe a velhice em olhos antes meigos. Não mais parecia o menino jovem ao ombro de um amado pai, energia que demora a se consumir de vida, mas que agora era reflexo do conhecimento adquirido de forma tão ab-rupta nas longas idas à livraria. Extensa por si, tornou-se extenso o conhecimento do jovem moço, que deixara de ser moço bem antes dos quarenta.

E por mais que o questionamento se siga, tornou-se senil, ou um pouco mais que senil, por apenas ter passado lendo e lendo, vivendo páginas e histórias de outros séculos, eternizados pelos números de vendas livreiras. E preso arquétipo naquele mundo paradoxo, viveu o que nunca lhe foi tempo. Foram cinco anos ininterruptos lendo a livraria da esquina do Leblon, local de todas as possíveis letras e fugas.

Por ter tido a chance de viver as leituras – herança de um pai que preferiu economizar a viver algumas mais intensas felicidades – largou o trabalho para viver os estudos que supunha ter deixado de lado. Tinha uma vultuosa soma no banco, economia desnecessária paterna, mas que agora se sabia vivida nos livros. E o jovem rapaz de vinte e sete chegou aos trinta e dois com um currículo de leitura de quase todos os consagrados, e apenas se consagrou como o homem oblongo à cadeira ao lado da imagem do Autor.

A leitura foi-lhe fuga no início para a desventura da lembrança daquele ombro, depois se tornou o caminho certo todos os dias, após o horário do almoço. E ali ficava acompanhado dos copos de destilados, cigarros, charutos e livros lidos. E também um punhado de folhas para anotação. As cadeiras ao lado sempre se cediam às mesas mais humanas, ficando o jovem perdido dos companheiros, anotando e catalogando frases e trechos. Era um homem de sabor pelo conhecimento, que desfiava tudo que podia apenas em folhas sem pauta, organizada nas prateleiras do belo apartamento na Dias Ferreira.

E não tardou mais três anos para que o estoque de grandes autores se esgotasse. Mesmo os mais lautos autores, best-sellers, prêmios Nobel ou outros tantos, um dia lhe vieram faltar compaixão e não tinham mais produzidos outros grandes livros. Não se sentariam mais com ele Rosa, Cabral, Torres, Cony ou Maupassant. Todos os novos consagrados, os antigos, sofistas, todos, esgotaram-se em não mais do que nove anos de leitura. Resultado de algo em torno de dez horas por dia, vivendo palavras dos outros. Porém, sabia-se que não iria se render a estudos feitos por estudantes de Letras, alguns apenas majorando títulos universitários, vendendo suas análises a bancas outroras; seus estudos eram seus, nunca delimitados pelos outros. Mas o limite feliz da conquista de ter ainda mantido lauta suficiência financeira – gastava pouco, pois não tinha contas exageradas, apenas se mantinha vivo para a leitura – agora se resumia ao triste encontro do limite, ou abismo, de já ter lido tudo produzido ao longo de uma humanidade. Viu-se obrigado a pedir a conta e às cinco da tarde de quinta-feira foi caminhar pelo Leblon.

E ali lhe era a intromissão. Andar por entre árvores e escutar vozes de alguma brincadeira. Nem bem se lembra de quando lhe incomodaram as risadas nubentes ou de algum jogo de criança. Viu que o mundo pouco mudara, e as mais sutis também não lhe traziam a força para uma nova percepção. Os carros eram estacionados. As calçadas eram esburacadas. E não no mais nada poderia se encontrar. Era como todos, mais um entre vários. Apenas sentia que ali nunca realmente fora seu lugar. Não custou muito para as pernas se cansarem. O roto boné francês – parte da indumentária intelectual da leitura – foi retirado por causa do calor. A testa, lisa pelo pouco uso, dava também os contornos para a força do brilho do Sol, que o oblongo jovem senil agora se deixava consumir. Sentou-se vendo aquele brilho, que há muito não o incomodava. Pouco se dava, porém, à lembrança daquele momento. As pessoas que ali se serviam de vida, andando ou caminhando ou meramente existindo, compunham-lhe a visão, como se fossem personagens antes existidos. Dava-lhe prazer ao ver que conhecia a todos, estereótipos de si mesmos, figuras iniludíveis que se constroem de mero acaso social. Eram os mesmos formatos humanos que corriam com poucas roupas, adultos e jovens moldados na própria insegurança de vida, e ali se suava como uma máquina sudorípara.

Ficou a imaginar o que faria daqui por diante, já que os textos haviam se extinguidos, e não ficaria a mercê de surgirem novos consagrados para continuar lendo. Sabia, porém, que mesmo os novos iriam escrever sobre as mesmas comiserações humanas que todos os outros grandiosos já escreveram. E que não haveria um novo ou alguém que se desfigurasse de filósofos, pensadores, ou quaisquer que sejam os existidos, que viriam a questionar a raça humana sob uma nova óptica. Aliás, sabia sim que nova óptica não existia. Continuou firme com o pensamento de que não releria os consagrados ou críticos literários diversos. Ficaria com sua percepção e ponto. Passou a andar as pedras da calçada, desviando-se daqueles infelizes que buscavam manter a forma.

Tal foi a caminhada que chegou a Ipanema. Lá viu um sebo, de beira de esquina. Os mesmos livros, e até mesmo os que se julgavam leitores. Sabia ali que iria encontrar um bando de pseudoleitores, adoradores de orelhas bem escritas, e que mal sabiam a existência dos vários autores. Ficou incomodado com a jovem vendedora, vestida em trapos escuros, que acompanhavam a desordem dos cabelos e a tristeza do cigarro. Era mais uma jovem detentora de um vaziismo intelectual, já assim poderia ver. Mais uma no meio de mais uns. O suor gotejava no moço uma raiva sua, típica sua, de alguém que viveu a juventude dos bons textos. As estantes apresentavam velhas Barsas, dicionários, léxicos universitários e mais um monte do seu puro conhecimento. Sabia de todos as boas frases, as boas construções. A bancada da vendedora era acompanhada de panfletos sobre estética cultural moderna – ou releitura com novo vocabulário – que nunca fez questão de ver. Eram besteiras de jovens outros pseudos. E assim mal se sabia.

Deu-se ao luxo, porém, de duas pequenas revistas sobre literatura. Papel-jornal, algo simples. E viu a mistificação de seu pensamento, jovens meramente escrevendo. E lá encontrou sua conformação. Mais um bando escrevendo sobre os mesmos temas humanos, usando palavras contemporâneas, algo que se quiçá julgaria literatura. Não haveria do que se consagrar, pensava. Leu as duas revistas, e não via a chance de um dia encontrar um bom novo autor.

De um dia a mais, havia o fim daquela quinta. Poderia até se dizer um novo começo, pois o que faria dali por diante? Fora ao chuveiro, e depois às anotações. Reviu a organização de algum de seus papéis e releu alguns trechos. Era a soma de uma vida, curta assim poderia dizer, mas era a sua vida naqueles papéis. Foi folheando-os com toda a sutileza capaz de alguém que sabia mexer com o papel, e admirava a folha por seu teor amoroso com a história e sua importância em catalogar a vida. E viu a lágrima que caiu sobre uma das páginas. Pegou-se chorando ao ver o limite tão novo somente, tão velho e limitado em si. E nesse caso, vieram-lhe as memórias, as incômodas, que os anos de leitura não conseguiram esconder. Eram elas a Macabéia da própria insegurança, a vírgula no início do parágrafo. E se viu Bentinho na traição do próprio mundo. A força da saudade paterna – vírgula aurora no esquivo de sua adolescência.

E num aparador perto da porta de seu apartamento, lá teve a sorte de uma outra memória. Encontrava-se, na sombra do pai, última foto vivida com ele algum sorriso. Foto em terra importada, não aquele lugar nacional. Segurava com o pai uma nota de dólar e um balão de personagem de história infantil. E percebeu o papel em sua mão, a importância dada pelo pai e tudo que assim se valia. Soube-se assim sua ação, força antes incrustada que lhe fez perceber a ignorância pura do seu indistinto mundo a todos.

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