Há um certo tempo, venho martelando um mesmo tema com os meus alunos: o distanciamento entre as pessoas provocado pelos excessos tecnológicos. É quase como um clichê, venho-o trabalhando incessantemente, sempre quando me há uma brecha para destilá-lo, assim o faço em minhas aulas. E hoje não me foi diferente, ele se encontrou comigo e fomos de mãos dadas na aurora do discurso.
Mas por que o tenho tanto para mim? Foi isso que me perguntei ao voltar para casa. E parece que minha incessante vontade atrelada não somente a uma percepção, mas à constatação de minha velhice tem me feito dizer que devemos nos apegar mais às pessoas. E sim, numa demonstração oblíqua de minha ação didática, indistintamente estou me mostrando carente.
Tenho pedido, como se levantasse uma bandeira, sejamos mais próximos aos outros, deixemos de nos apaixonar por uma foto, ao invés de digitar, conversemos. E como num discurso bobo e interminável, vou comendo as horas de minhas aulas tresvariando carência em pedagogia. Por sorte, meus alunos não veem o outro lado dessa moeda, não por incapacidade, mas por aceitarem o papel didático. Seus rostos e cabeças a confirmarem não somente me faz ver como entendem o que falo, mas também como estão intimamente carentes. Expressões como tedollumuitu, beijux, não são apenas transformações linguísticas do novo português, são o apelo desesperado, quase que um grito, de um mundo que está sofrendo de carência crônica.
E aí vejo, não sou só eu, pré-internet, pós-msn, que clamo pela atenção humana; somos todos nós usando do recurso da internet, jorrando sentimentalismo pela necessidade de aproximação. Sim, podemos viver a era da estética, da foto de belas poses, da câmera digital que não nos deixa mais vendidos para aquele que um dia revelou nossas fotos, da distância do convívio por causa do mundo digital, mas a aproximação virtual é falsa, inócua, balela de última hora. É como bala de menta para disfarçar a fome, só que a fome ainda está lá.
Pode até ser estranho eu falar de carência, pois sou bem casado e tenho uma menina para chamar de filha. Mas quase não as vejo, e quando estou com elas, tenho minhas obrigações, que acabam nublando minha noite, desfigurando meu sorriso, sufocando minhas ambições. Não que eu queira o computador, ou apenas ficar com elas, mas a lógica da perfeição imposta pela informática nos fez diretamente acabar com a qualidade de nosso cotidiano. Eu quase não posso ficar com minhas meninas, pois tenho que digitar minhas provas. Meus alunos marcam horário na sala de bate-papo tal para jogarem pela rede, e não mais o futebolzinho. Até para rodar pião eles têm um programa específico. É, estar junto passará a ser analisado como nostalgia de uma época que foi vencida. Sim, mais uma boa coisa do passado foi vencida.
E para aqueles que conseguiram me ler até aqui em baixo, que assim vieram aqui pela identificação com a carência, com a falta, ou com o que seja, não peço para que desliguem o computador, mas que no cubículo ao lado da lanhouse ou no quarto ao lado do seu existe uma pessoa que ainda pode ser uma pessoa, e não um recluso extremista na virtualidade da internet. Não é para abraçá-la, mas ao invés de apertar o send e enviar uma resposta, toque-a no braço e diga, vamos sair e bater um papo? Se mesmo for difícil, então deixe que as pessoas falem contigo e vença essa timidez pós-moderna idiota, pois conversar vai se tornar algo raro, algo que poderá até ser cobrado nas provas futuras.
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