quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Não há mais samba como antigamente

Tentei acompanhar um pouco dos sambas-enredo que foram compostos para esse ano. Uma coisa curiosa percebi, somente os integrantes que acompanham o dia-a-dia das escolas é que chegam a decorar os refrões e as batidas das últimas composições. Hoje não existe mais aquela canção, aquela letra que se gruda e ultrapassa o limite do período do carnaval e passa a se tornar marchinhas, música mesmo, algo do cotidiano da nossa MPB,e não somente uma alegoria do espetáculo. Não vejo como um problema dos compositores – até porque, alguns ainda são os mesmos de todos aqueles bons sambas – mas o espetáculo se tornou tão visual, mas tão visual, que tudo que não é imagem passou a ser um mero detalhe, um elemento qualquer.
Isso já é algo até de minha época de garoto. Muitos até viam as grandes apresentações na tentativa de ver uma mulher pelada. Eu lembro que ficava acordado até tarde, tarde mesmo, só para ver aquelas mulheres lindas e desinibas demais sambando somente com uma pintura no corpo. Era maravilhoso. É até mesmo daquela época que destaco três sambas que até hoje, quem puxar o refrão, vai conseguir cantar boa parte ou até mesmo a letra como um todo.
A primeira delas: União da Ilha do Governador, num samba de homenagem a Didi, o poeta popular. É um letrão de primeira.

De bar em bar, Didi um poeta
Autor: Franco
Hoje eu vou tomar um porre
Não me socorre eu tô feliz
Nessa eu vou de bar em bar
Beber a vida que eu sempre quis
E no bar da ilusão eu chego
É pura paixão que eu bebo
Amor me deseja, me dá um chamego
Me beija e me faz um cafuné
Bebo vem e bebo vai
Que nem maré
Balança mais não cai
Boêmio é
Garçom! Garçom!
Bota uma cerva bem gelada
aqui na mesa
Que bom! Que bom!
Minha alegria deu um porre na tristeza
Poeta enredo da canção
Cartilha que eu aprendi
Canta Ilha de emoção
Saudades de você, Didi
Amor! Amor! Eu vou
É nessa aqui que eu vou
O sol vai renascer o meu astral
Amor! Amor! Eu vou
Ô Esquindô! Esquindô!
Num gole eu faço um carnaval

Isso sabe ser letra de samba. E sabe muito! Até hoje me pego cantando do nada. Foi ela responsável por um certo amor que tenho à União da Ilha, primeiro até pela letra mesmo, segundo por ter sido criado por lá, no Tauá – que saudades que eu tenho (o resto você completa)

Agora, outra letra boníssima é uma de 1992, Sonhar não custa nada, ou quase nada! Essa tem gente que canta até hoje tomando banho. Eu, por exemplo.

Sonhar não custa nada
O meu sonho é tão real
Mergulhei nessa magia
Era tudo que eu queria
Para ese carnaval
Deixe a sua mente vagar
Não custa nada sonhar
Viajar nos braços do infinito
Onde tudo é mais bonito
Nesse mundo de ilusão
Transformar o sonho em realidade
E sonhar com a mocidade
E sonhar com o pé no chão
Estrela de luz
Que me conduz
Estrela que me faz sonhar
Amor, sonhe com os anjos (não se paga)
Não se paga pra sonhar
Eu sou a noite mais bela
Que encanta o teu sonho
Te alucina por te amar (amar, amar)
Vem nas estrelas do Céu
Vem na lua de mel
Vem me querer
Delírio sensual
Arco-íris de prazer
Amor, eu vou te anoitecer
Eu vejo a lua no céu
A mocidade a sorrir
De verde-e-branco na sapucaí

Esse samba aí era de pular muito. Eu me amarro até hoje. E pensar que já possuem quase vinte anos. Então olha essa que agora coloco, samba-enredo de 1993, da Salgueiro.

Lá vou eu...
Me levo pelo mar da sedução (sedução)
Sou mais um aventureiro
Rumo ao Rio de Janeiro
Adeus, Belém do ParáUm dia volto, meu pai
Não chores pois vou sorrir
Felicidade o velho Ita vai partir
Oi no balanço das ondas... Eu vou
No mar eu jogo a saudade... amor (bis)
O tempo traz esperança e ansiedade
Vou navegando em busca da felicidade
Em cada porto que passo
Eu vejo e retrato, em fantasias
Cultura, folclore e hábitos
Com isso refaço minha alegria
Chego ao Rio de Janeiro
Terra do samba, da mulata e futebol
Vou vivendio o dia-a-dia
Embalado na magia
Do seu carnaval

Explode coração
Na maior felicidade (bis)
É lindo o meu Salgueiro
Contagiando, sacudindo essa cidade


Esse Explode Coração, Na maior felicidade, É lindo o meu Salgueiro, caceta, é de arrepiar. São sambas, todos eles, de letras simples até demais, nada de rodeio, muita rima ou palavras bonitas, todo o experimentalismo modernista em explosão popular – como tais queriam – e que merecem ser lembrados sempre.

Aí Cerestino, ainda no desafio, naquela nossa Guerra Declarada, escolhe um para sua coluna aí e manda brasa. Eu tô aqui sambando no teclado. Desafio até todos, se souberem de alguma letra de qualidade, dessas mais novas, por favor, mandem para um eterno duelo pela qualidade brasileira. Sabe, sendo sincero, não me entristeço por esse declínio, tudo é fruto das eternas quebras de paradigmas – nosso clichê moderno – e que faz com que nos retoquemos, busquemos o novo e nos dê chance para criar o simples no moderno excessivo. Espero que uma dia consigamos.

Um comentário:

Cerestino disse...

Bom,aproveitando sua deixa, próxima sexta na coluna musical deste sarau virtual virá um ssamba bem gostoso [eu o acho] de ouvir.

surpresa!

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