Esta semana estava eu ouvindo a rádio – pois rádio é cultura e informação e nem só de i-pod viverá o homem! –, quando me deparei com um debate interessantíssimo sobre a inveja e um dos debatedores disse que todo ser humano sente inveja, seja do que for. Isso me fez lembrar o que disse uma maravilhosa professora de Psicologia que eu tive na faculdade, Regina Carrancho, que também fez a mesma afirmação; na época eu fiquei chocada, pois me acreditava acima desse sentimento mesquinho, mas qual não foi a minha surpresa ao verificar que eu realmente sentia inveja! E foi no meio desse pensamento que a diarista aqui de casa saiu com a seguinte tirada: “É, Dona Alexandra, inveja todo mundo tem, mas até pra ser invejoso é preciso ser inteligente, né?”. A mulher parecia até telepata! Perguntei: “Como assim, Fabiana?” e ela muito à vontade respondeu: “Ué, a gente vai invejar quem tem mais que a gente! Invejar quem tem menos é burrice!”. Touché.
Ok. Sinto inveja, mas será que das coisas e das pessoas certas? Fui dar tratos à bola e tentei analisar o que me causa inveja. Chequei ponto por ponto e vi que invejar quem tem ou sabe menos é perda de tempo, além de rematada burrice mesmo. Vamos desfiar o rosário.
Sempre invejei aquelas mulheres que atraem os homens como mosca no mel, mas percebi que elas atraem realmente qualquer tipo de homem, o que não que dizer que estes valham à pena. Então para quê invejá-las? Vou invejar as bem casadas, com companheiros incríveis que as tratam como rainhas, que recebem flores todos os dias, e têm seu amor conquistado todos os dias. Invejar aquelas modelos lindas dos comerciais de shampoo com cabelos que parecem um manto? Não! Vou invejar as mulheres que tem a coragem de desapegar das suas madeixas e mostram que têm atitude como a Mayana Moura, a Sandra Annerberg, a Maria Paula. E, se é para invejar em grande estilo, não vou invejar os desleixados e desprovidos de conhecimento fashion, vou invejar mesmo é a Ana Hickmann, a Glória Khalil, a Isabela Fiorentino, a Constanza Pascollato, a Giane Albertoni. Até poderia invejar a juventude, mas acho que prefiro mesmo a experiência, a elegância e o senso de humor da maturidade de Marília Gabriela, Luíza Brunet, Christiane Torloni, Fernanda Young e Fernanda Torres.
Vou invejar quem não tem espírito solidário? Deus me livre! Quero invejar gente como Madre Teresa, Zilda Arns e Irmã Zoé, que se preocuparam com o bem-estar alheio e se compadeceram com o sofrimento do próximo, ainda que não fossem seus parentes. Invejar quem não sabe perdoar? Invejo, sim, Mahatma Gandhi e Chico Xavier.
Devo invejar os workaholics, os ambiciosos, os sedentos de independência financeira a qualquer custo? Mil vezes não! Quero invejar os que trabalham por prazer, com aquilo que gostam, pois esses têm mais harmonia na vida e menos doenças do corpo e da alma. Invejar aqueles cujos conhecimentos de informática não vão além do Facebook? Nada hi-tech, hein? Decidi invejar o Bill Gates, o Larry Page e o Sergey Brin e todos os feras em Photoshop, Corel, Autocad e Pro Tools M Powered 7.
E nem pensar em invejar os sucintos, tímidos da pena! Invejarei os grandes escritores, os que têm o dom da palavra, invejarei Cervantes, Camões, Montalbán, Shakespeare, Pessoa, Paulo Coelho e Agatha Christie, Ken Follet e J. K. Rowling. E o que dizer dessa geração que prefere Lady Gaga à Maria Bethânia?! Não dá pra invejar quem não conhece Noel Rosa, Cartola, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth; quem não canta um verso de Caetano, Tom Jobim e Zizi Possi! Como sentir inveja dos mortais que não suportam cinco minutos de Mozart, Schubert, Beethoven ou Pavarotti? E já que enveredei pelas artes, invejar quem não dança é o ó! A meta é Ana Botafogo, Débora Colker, Beyoncé, Shakira, mas (os puristas que me desculpem) numa pista de dança até Mulher Melancia tem seu valor!!! Culinária também é uma forma de expressão, então invejar quem mal sabe fritar um bife é pedir para morrer de fome física e cultural. Vou temperar minha inveja com Ana Maria Braga, Roberta Sudbrack, Emmanuel Bassoleil e Claude Troisgros.
E por último, porém não menos importante, não invejarei os que pouco conhecem do território brasileiro e de suas belezas. Por viajar desde os sete anos de idade conheço metade desse país, parques temáticos, museus em várias cidades brasileiras, hotéis incríveis. Ah, francamente, melhor invejar o Amir Klink e o Zeca Camargo!
Sei que estou há léguas de algumas das personalidades que citei, pois estas estão num patamar muito elevado, moral e espiritualmente falando, mas para crescer a gente deve olhar para cima e não para baixo. Já dizia meu amado Noel: “Quem é você que não sabe o que diz/ Meu Deus do céu que palpite infeliz...”
2 comentários:
Tenho inveja das pessoas que escrevem boas crônicas, assim...
E eu tenho inveja dos escritores generosos, como você...
Saudades.
Bjks.
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