sábado, 18 de junho de 2011

Carta ao Homem de Opinião Volátil

O dia de um mais tudo, não no mundo mais quanto, e o quanto de ti tu foi a mim, meu pai. Meu reflexo de exemplo e na mais pura aurora, caminho pra um necessitado. És a fome e a raiva, a pureza e a podridão, naquilo que é tão tudo e ao mesmo tempo tão nada. Havia anos em que pensava escrever algo para ti. Assim tão direcionado e tão diretamente óbvio. Esta não é uma parte recife da escolha de palavras para compor capítulo mero de estória mais ampla. Isto aqui é recife seu. E sua é um tanto quanto de mais a ti que lhe escorre no mundo a culpa dos erros alheios. Tornaste homem martírio, sibilo martírio, de algo que acha ser bonito: aceitar a culpa, que não se vê, como maneira de manter pilar de família. Mas quando os muros que perseguiste vir em pé são apenas pó, é hora de perguntar ao que meramente é.


     Ainda não percebeste o quanto é mutante de tanto. Na tentativa de se esquivar de críticas, tornou-se um poço de sorrisos. Mas sua profundidade é tão curta que fica instável qualquer confiança depositada. E se sua seria sabida a palavra mal dividida, não é em ti que irei me espelhar pra compor-me homem. Sei o quanto um dia será difícil ler isso, mas quando me encontrar nessas palavras, talvez seja tarde a mim minha vinda. Sou venda, apenas olho diante demais. E com a faixa mais escura que pude encontrar, para não ver o quanto da tua carne se esfacela na dúbia aurora que te surge ao acordar, distante diante, um segundo tanto intocável. 
     Desnecessário é se criar uma redoma. O vidraceiro, quando a cria, usa do próprio sopro, da própria capacidade de respiração. Para se compor perfeita redoma, é necessário, de uma só vez, exaurir o pulmão, achando ter apenas uma chance para se criar a mais perfeita de todas. Mas naquela em que estou, como vidraceiro, eu me encontro soprando, suplantando ar em vez de choro, que me viria convulsivo e intempestivo. A cada respiração, meu ambiente de escolha vai se alargando, tornando-se a mais imperfeita forma oblonga, lisa, ininterrupta, e de vidro cada dia mais grosso. Por onde tocar, vai sentir a grossura blindada da massa vítrea, fazendo-o refletir que a escolha que fizeste não era das melhores a melhor, mas neste seu grau de inversão de culpa, enterra-se no desfalque da própria grandiosidade. 
     E nesse nosso não mundo, eu queria que mais da sua sombra crescesse por aqui. O problema, porém, se reside nessa sua maneira de encarar a realidade, algo que bem aprendi contigo, ao se enterrar de trabalho para não ver o óbvio. Também como a ti, trabalho muito, querendo escapar do tão óbvio desfalque que nos há. Hoje se há vida, há tristeza. Tornou-se balança, querendo equilibrar, quando o peso que corre para longe está buscando penas bem maiores.
     Mas da estrutura oblonga, nem tudo pode ser tão ríspido, pois sempre se dota o mundo com esperança. E foi por causa dessa senhora de verdes proporções que deixei a redoma enfraquecida. Lá no topo, consciência ,moleira da criança, a redoma racha fácil. E parece que lá se espera que tudo se redobre, se retome, se refaça, pois não há parágrafos no mundo que conseguirão suplantar o excesso de saudade que me há dos velhos tempos.

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