sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Terapêuticas a mais


Há tempos escrevo um modelo de texto que me serve para extravasar. É a esse modelo que declaro chamar de Terapêuticas. Preciso dizer que funcionam, não somente como terapia barata – não frequento psicólogos e psiquiatras, mas bem que deveria. O texto é bem mais barato, e julgo que resolve bastante. Semana passada, logo depois do início do ano novo, escrevi um texto declarando a minha nulidade. Depois de muitas frustrações artísticas – sabe aquela coisa de que a pessoa tem que se tornar artista, esse cara sou eu – julguei que nunca mais conseguiria ser escritor. Foi a única que não deixou tão às claras as minhas limitações. Mas depois de perceber que nunca conseguiria ajeitar a minha vida para poder passar escrevendo pelo menos que fosse uma página por dia resolvi colocar essa minha vontade na caixinha das frustrações e esquecê-la por lá. Dias depois, estou aqui diante de mais um Terapêuticas.  
            Não vou conseguir me ver longe da literatura. Não somente como leitor, eu preciso produzir. Escrever não é somente uma forma de estar no mundo, mas de suportá-lo. Não somente de produzir o Terapêuticas, mas sim de produzir algo. Gosto do meu trabalho, gosto da minha condição de casado – adoro, na verdade – minha condição de pai me traz uma valorização do ato masculino que me deixa muito feliz, mas tudo se contrastava com essa vontade de produzir literatura, que requer silêncio, solidão e contemplação. E nesta, principalmente, é que o crônico que gera a crônica se faz capaz de existir. Há algum tempo escrevi que a crônica não vem da cronologia somente, do ato com o cotidiano, mas sim com o crônico, com aquilo que é extremo, principalmente do incômodo. É o que me acontece agora, neste exato momento, a destilar um texto a partir daquilo que mais me incomoda: a vontade de pelo menos não ser vencido.
            Eu até tinha entregado os pontos. Não queria mais escrever por não poder atender a esses requisitos básicos que julgo serem necessários para a produção. Não nego que o silêncio é do qual menos dependo – para aqueles que são pais talvez consigam me entender -, porém o ato de estar sozinho e principalmente contemplativo não consigo abrir a mão. A agonia de ter escrito aquela última crônica, dizendo que apenas mostraria coisas que já foram escritas – sim, coisas – eu volto ao texto – e ao prompt do programa de digitação – conseguindo escrever algumas palavras.
            Amo-te, Terapêuticas, este modelo de texto em que me residi nos últimos anos. Basicamente as crônicas têm vindo desta fonte. Tenho saudades de escrever aquelas que eu considerava o meu modelo de crônica, o particular que partia para o total, abrindo as vezes para uma visão de mundo, não indutivo, diga-se de passagem, mas particular. Seria muita petulância de minha parte achar que posso induzir alguém a algo, nem muito menos quero, mas sei que quem lê se abre à indução ou a percepção do que está sendo lido.
            Tenho o prazer de ser lido, de discutir ideias que partem de meus textos – petulância, sei –, por isso afirmo claramente que aqueles que leram a minha última crônica, por favor a desconsiderem. E aqueles que me ligaram dizendo que eu faria uma burrada, digo, vou acreditar na mentira que me declaram. Muito obrigado. 

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