Há tempos escrevo um modelo de
texto que me serve para extravasar. É a esse modelo que declaro chamar de
Terapêuticas. Preciso dizer que funcionam, não somente como terapia barata –
não frequento psicólogos e psiquiatras, mas bem que deveria. O texto é bem mais
barato, e julgo que resolve bastante. Semana passada, logo depois do início do
ano novo, escrevi um texto declarando a minha nulidade. Depois de muitas
frustrações artísticas – sabe aquela coisa de que a pessoa tem que se tornar
artista, esse cara sou eu – julguei que nunca mais conseguiria ser escritor.
Foi a única que não deixou tão às claras as minhas limitações. Mas depois de
perceber que nunca conseguiria ajeitar a minha vida para poder passar
escrevendo pelo menos que fosse uma página por dia resolvi colocar essa minha
vontade na caixinha das frustrações e esquecê-la por lá. Dias depois, estou
aqui diante de mais um Terapêuticas.
Não
vou conseguir me ver longe da literatura. Não somente como leitor, eu preciso
produzir. Escrever não é somente uma forma de estar no mundo, mas de
suportá-lo. Não somente de produzir o Terapêuticas, mas sim de produzir algo.
Gosto do meu trabalho, gosto da minha condição de casado – adoro, na verdade –
minha condição de pai me traz uma valorização do ato masculino que me deixa
muito feliz, mas tudo se contrastava com essa vontade de produzir literatura,
que requer silêncio, solidão e contemplação. E nesta, principalmente, é que o
crônico que gera a crônica se faz capaz de existir. Há algum tempo escrevi que
a crônica não vem da cronologia somente, do ato com o cotidiano, mas sim com o
crônico, com aquilo que é extremo, principalmente do incômodo. É o que me
acontece agora, neste exato momento, a destilar um texto a partir daquilo que
mais me incomoda: a vontade de pelo menos não ser vencido.
Eu
até tinha entregado os pontos. Não queria mais escrever por não poder atender a
esses requisitos básicos que julgo serem necessários para a produção. Não nego
que o silêncio é do qual menos dependo – para aqueles que são pais talvez
consigam me entender -, porém o ato de estar sozinho e principalmente
contemplativo não consigo abrir a mão. A agonia de ter escrito aquela última
crônica, dizendo que apenas mostraria coisas que já foram escritas – sim,
coisas – eu volto ao texto – e ao prompt do programa de digitação – conseguindo
escrever algumas palavras.
Amo-te,
Terapêuticas, este modelo de texto em que me residi nos últimos anos.
Basicamente as crônicas têm vindo desta fonte. Tenho saudades de escrever aquelas
que eu considerava o meu modelo de crônica, o particular que partia para o
total, abrindo as vezes para uma visão de mundo, não indutivo, diga-se de
passagem, mas particular. Seria muita petulância de minha parte achar que posso
induzir alguém a algo, nem muito menos quero, mas sei que quem lê se abre à
indução ou a percepção do que está sendo lido.
Tenho
o prazer de ser lido, de discutir ideias que partem de meus textos –
petulância, sei –, por isso afirmo claramente que aqueles que leram a minha última
crônica, por favor a desconsiderem. E aqueles que me ligaram dizendo que eu
faria uma burrada, digo, vou acreditar na mentira que me declaram. Muito
obrigado.
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