Jabor,
arregão, conhecido por sua veia explosiva e, às vezes, afoita, deu mais uma
demonstração de que elites opulentas costumam julgar massas ditas inferiores e
tachá-las a bel maneira que querem. Sei que o exercício de humildade – como
disse, exercício -, atrelado a uma percepção mais concreta do que de fato
aconteceu, pode arrefecer um pouco os ânimos em relação a sua pessoa. Mas a sua
ação não deixa de ser um exemplo de vários que, no topo de suas efígies, estão
sentindo o chão tremer com a marcha dos indignados.
Poucos
foram os políticos que até agora apareceram para dar alguma satisfação. A nossa
Presidenta Dilma legitimou o movimento, até como lembrança histórica de sua
atuação, mas amedrontada, pois no seu cursinho de vestibular para presidente
não lhe deram a disciplina “como lidar com as massas opressoras”, ela se
encontra acuada, como todos.
No
entanto, o medo dos políticos ainda não se concretizou essencialmente.
Agressões como diminuição de salário dos professores e aprovação da “cura gay”
aparecem como exemplos da pompa substancial que ainda possuem. Para estes, sim,
sou a favor do impeachment, da deposição. As razões deles podem até soar como
válidas, mas serão naturalmente escusas. Devemos reprimi-los nas urnas. O poder
do voto se torna onipotente e onipresente neste momento.
Sabíamos
há tempos que uma explosão popular iria se deflagrar mais cedo ou mais tarde.
Eu particularmente achava que viria para a geração de minha filha, hoje com
seis anos, que não entende o levante barulhento e o sorriso bobo e utópico do
pai e da mãe. O que minha geração cantou em letras adolescentes e virulentas,
esta geração faz questão de colocar em prática. Não foi medo nosso, nós ainda
éramos comandados na implicitude. A atual tem total poder de anonymato e
capacidade de exposição ao mesmo tempo. A internet, uma vez transformada como
mais um instrumento de alienação e exposição do indivíduo, se tornou o
principal instrumento de manifestação e movimento. O feitiço se torna contra os
feiticeiros das siglas democráticas.
O
medo das elites opulentas, agora oprimidas, cresce em sua essência, pois a
origem de controle e comando do Brasil – os políticos – está encurralada entre
a fonte financeira destas elites financiadoras e o clamor público. A sua
principal forma de sustento – a política – agora será usada como arena de
sobrevivência. Os marcados serão aos poucos jogados aos leões, os que sobrarem
serão sabatinados. A carnificina está sendo montada.
Não
vejo, no entanto, a necessidade de se criar novos partidos políticos. Por
estarmos vivendo um movimento apartidário, sem lideranças explícitas, algo que
traduz a descrença na política atual como um todo, a busca por criar um novo
partido traria, sim, muitas adesões, mas no ato democrático, há a necessidade
de se criar uma oposição. Quem se oporia a esta força? Os partidos
remanescentes? Os dados de uma nova realidade estão lançados. Penso que podemos
aproveitar aqueles que estejam disponíveis à conversação, que não detenham
excessos ou bandeiras anacrônicas.
Sei
que cenas posteriores podem mudar também a minha opinião. Me reservo à condição
de observador que até pode ter uma consciência afoita, atolada de sorrisos e
angústias, mas que não vai julgar à luz de preconceitos primevos. Por sorte,
não sou um ex-guerrilheiro em trajes globais, que vocifera a agonia dos
julgados incapazes. A sorte está do lado de todos. O clamor público não. E no
final das contas, quem dita as regras?
Nenhum comentário:
Postar um comentário