quarta-feira, 19 de junho de 2013

O preço de um medo

                Jabor, arregão, conhecido por sua veia explosiva e, às vezes, afoita, deu mais uma demonstração de que elites opulentas costumam julgar massas ditas inferiores e tachá-las a bel maneira que querem. Sei que o exercício de humildade – como disse, exercício -, atrelado a uma percepção mais concreta do que de fato aconteceu, pode arrefecer um pouco os ânimos em relação a sua pessoa. Mas a sua ação não deixa de ser um exemplo de vários que, no topo de suas efígies, estão sentindo o chão tremer com a marcha dos indignados.
                Poucos foram os políticos que até agora apareceram para dar alguma satisfação. A nossa Presidenta Dilma legitimou o movimento, até como lembrança histórica de sua atuação, mas amedrontada, pois no seu cursinho de vestibular para presidente não lhe deram a disciplina “como lidar com as massas opressoras”, ela se encontra acuada, como todos.
                No entanto, o medo dos políticos ainda não se concretizou essencialmente. Agressões como diminuição de salário dos professores e aprovação da “cura gay” aparecem como exemplos da pompa substancial que ainda possuem. Para estes, sim, sou a favor do impeachment, da deposição. As razões deles podem até soar como válidas, mas serão naturalmente escusas. Devemos reprimi-los nas urnas. O poder do voto se torna onipotente e onipresente neste momento.
                Sabíamos há tempos que uma explosão popular iria se deflagrar mais cedo ou mais tarde. Eu particularmente achava que viria para a geração de minha filha, hoje com seis anos, que não entende o levante barulhento e o sorriso bobo e utópico do pai e da mãe. O que minha geração cantou em letras adolescentes e virulentas, esta geração faz questão de colocar em prática. Não foi medo nosso, nós ainda éramos comandados na implicitude. A atual tem total poder de anonymato e capacidade de exposição ao mesmo tempo. A internet, uma vez transformada como mais um instrumento de alienação e exposição do indivíduo, se tornou o principal instrumento de manifestação e movimento. O feitiço se torna contra os feiticeiros das siglas democráticas.
                O medo das elites opulentas, agora oprimidas, cresce em sua essência, pois a origem de controle e comando do Brasil – os políticos – está encurralada entre a fonte financeira destas elites financiadoras e o clamor público. A sua principal forma de sustento – a política – agora será usada como arena de sobrevivência. Os marcados serão aos poucos jogados aos leões, os que sobrarem serão sabatinados. A carnificina está sendo montada.
                Não vejo, no entanto, a necessidade de se criar novos partidos políticos. Por estarmos vivendo um movimento apartidário, sem lideranças explícitas, algo que traduz a descrença na política atual como um todo, a busca por criar um novo partido traria, sim, muitas adesões, mas no ato democrático, há a necessidade de se criar uma oposição. Quem se oporia a esta força? Os partidos remanescentes? Os dados de uma nova realidade estão lançados. Penso que podemos aproveitar aqueles que estejam disponíveis à conversação, que não detenham excessos ou bandeiras anacrônicas.

                Sei que cenas posteriores podem mudar também a minha opinião. Me reservo à condição de observador que até pode ter uma consciência afoita, atolada de sorrisos e angústias, mas que não vai julgar à luz de preconceitos primevos. Por sorte, não sou um ex-guerrilheiro em trajes globais, que vocifera a agonia dos julgados incapazes. A sorte está do lado de todos. O clamor público não. E no final das contas, quem dita as regras? 

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