Não o fazia diferença ser-lhe enfim um final dia, mas o era, por sorte. Ensaboando o rosto como de costume às quartas-feiras à noite, só o foi tempo de esperar a chegada do filho da faculdade e trazer a notícia pelo último, Fernando, ta sabendo, seu avô morreu, e assim descobriu Fernando a morte daquele que não conhecia.
Chocou-lhe o fato do decalque do comum em como podia ensaboar o rosto com tanta suavidade preparando-se para barbear-se e dar tal notícia. Era o desenho do simples, a falta do feliz que havia no rosto de seu pai, e Fernando, ainda a digerir, salpica, Vovô, seu pai?, Exato, e desenhou-se a descida da primeira gilete ao rosto. Ali pôde de fato rasurar as perguntas sobre o pai, entender o que o motivava, por que tanto trabalho, por que poucos filhos, a distância, principalmente dos olhos. Deixou se refletir um tanto de sombra, esconder-se entre ineficiências da luz de lâmpadas mal-dispostas e ver o pai a desenhar a pele, a dar-lhe certa sobrevida.
Enterro amanhã, quer conhecê-lo?, e assim se fez Fernando na lembrança que não existia. Vislumbrou o fato de nunca ter visto o avô mesmo, de não saber sua voz, o passado que assim se poderia, apenas deixou para o neto a certeza do pai, a firmeza daquela mão, Quer ir mesmo, filho?, perguntou sua mãe, Devemos?, É bom, né?, e lá estavam, como se houvesse saudade naquela ida.
Fernando pôde rever alguns poucos que eram conhecidos. Mas o que havia de vida era apenas a pouca respiração, restolho do dia anterior, lembrança das breves e firmes giletadas. Deu-se o enterro, um nada de muito, sutis lágrimas só dos que conviveram. Havia o desenho de uma lápide, descobriu-se então o nome, sobrenome, data de vinda, data de ida, nada de uma linha de resumo ou rascunho. Por ser pedra, e não tela viva, nem mesmo aquele sinal intermitente do programa de digitação a chamar palavras. Era a lápide, sem epitáfio.
Do lado de fora do cemitério, a outra linha em Paraíba do Sul, havia um local chamado Café Aleluia. Ali todos se reuniam para saborear o que se pudesse, como forma de uma qualquer vida ou pós, pré-vida, suporte em síntese. Invariavelmente todos iam ao Café Aleluia, por pior que fosse o nome do local. Como forma de certo amparo coletivo, o dono, católico de óbvio, dava p primeiro copinho de café por conta da casa, como se abraçasse os parentes do defunto, do segundo em diante, cobrava-se, Sinta-se abraçado e me abrace, então, era o que se dizia no sutil, poucos ficavam no primeiro copo. Fernando e os vários todos estavam no Café, também no invariável. Juntaram-se algumas mesas e desenharam uma família naquelas cadeiras de amarelo e ferrugem de marca de cerveja. Café para os adultos, coca para as crianças e algum punhado de esfirras no centro da mesa. O pai de Fernando era o mais incólume, dissoluto, também ali poucos falavam. Os poucos que respingavam aplacavam sobriamente as lágrimas e também pouco falaram. Não havia palavras para o passado do morto, nem muito mesmo resignação naqueles olhos. Era um enxame de opiniões contido naquele silêncio, uns a abraçar a primeira matriarca, avó de Fernando, outros a contornar a segunda, mãe de mais outros três tios do jovem estudante público. Alguém até ensaiou palavras, brevemente percebidas, era uma certa cor de sofrimento naquela percepção e assim se viu melhor calado.
O relógio não bailou nem dez minutos de mais, e todos já eram saída. Alguns abraços, poucos telefones trocados, a noite era só um evento, não um mote para a família. Fernando percebeu algumas promessas diplomáticas, Algum dia apareço lá, e todos desenharam passado. Seu pai, ainda como de firme em pé, voltou ao balcão do Café Aleluia, pegando por sim mais um café, Vamos embora, meu amor?,perguntou mãe ao pai, Meu filho, traz o carro até aqui?, e assim fez Fernando, resignado. Após desligar o carro, viu que o pai ainda desfiava sobriedade e certo olhar de fortaleza. O café era a única forma de se chegar até ele, Deixa seu pai, ele precisa de um tempo sozinho.
Falso o pensamento o dela. O silêncio masculino nem sempre é tristeza, mas fruto da máxima incapacidade de se entender. De dentro do carro, já no banco de trás, conseguiu ver o pai dar o último gole naquele copinho de plástico e se virar após ter recebido o troco. Na parte de dentro do estabelecimento, havia o nome do local, como se servisse para lembrar onde todos estavam. Fernando viu o pai dar uma última olhada para aquele nome e o viu dizer amém, rindo.
Você está bem para dirigir, meu amor?, Melhor, impossível, disse. Dali, partiram para casa, e a única lembrança a se fiar é o nome do local, a guardar a sobriedade daquele pai que disse amém rindo, ou por resumo da piada daquele nome, ou por se livrar de algum peso. Amém pode ser fim de reza, ou pouco mais do que isso.
Chocou-lhe o fato do decalque do comum em como podia ensaboar o rosto com tanta suavidade preparando-se para barbear-se e dar tal notícia. Era o desenho do simples, a falta do feliz que havia no rosto de seu pai, e Fernando, ainda a digerir, salpica, Vovô, seu pai?, Exato, e desenhou-se a descida da primeira gilete ao rosto. Ali pôde de fato rasurar as perguntas sobre o pai, entender o que o motivava, por que tanto trabalho, por que poucos filhos, a distância, principalmente dos olhos. Deixou se refletir um tanto de sombra, esconder-se entre ineficiências da luz de lâmpadas mal-dispostas e ver o pai a desenhar a pele, a dar-lhe certa sobrevida.
Enterro amanhã, quer conhecê-lo?, e assim se fez Fernando na lembrança que não existia. Vislumbrou o fato de nunca ter visto o avô mesmo, de não saber sua voz, o passado que assim se poderia, apenas deixou para o neto a certeza do pai, a firmeza daquela mão, Quer ir mesmo, filho?, perguntou sua mãe, Devemos?, É bom, né?, e lá estavam, como se houvesse saudade naquela ida.
Fernando pôde rever alguns poucos que eram conhecidos. Mas o que havia de vida era apenas a pouca respiração, restolho do dia anterior, lembrança das breves e firmes giletadas. Deu-se o enterro, um nada de muito, sutis lágrimas só dos que conviveram. Havia o desenho de uma lápide, descobriu-se então o nome, sobrenome, data de vinda, data de ida, nada de uma linha de resumo ou rascunho. Por ser pedra, e não tela viva, nem mesmo aquele sinal intermitente do programa de digitação a chamar palavras. Era a lápide, sem epitáfio.
Do lado de fora do cemitério, a outra linha em Paraíba do Sul, havia um local chamado Café Aleluia. Ali todos se reuniam para saborear o que se pudesse, como forma de uma qualquer vida ou pós, pré-vida, suporte em síntese. Invariavelmente todos iam ao Café Aleluia, por pior que fosse o nome do local. Como forma de certo amparo coletivo, o dono, católico de óbvio, dava p primeiro copinho de café por conta da casa, como se abraçasse os parentes do defunto, do segundo em diante, cobrava-se, Sinta-se abraçado e me abrace, então, era o que se dizia no sutil, poucos ficavam no primeiro copo. Fernando e os vários todos estavam no Café, também no invariável. Juntaram-se algumas mesas e desenharam uma família naquelas cadeiras de amarelo e ferrugem de marca de cerveja. Café para os adultos, coca para as crianças e algum punhado de esfirras no centro da mesa. O pai de Fernando era o mais incólume, dissoluto, também ali poucos falavam. Os poucos que respingavam aplacavam sobriamente as lágrimas e também pouco falaram. Não havia palavras para o passado do morto, nem muito mesmo resignação naqueles olhos. Era um enxame de opiniões contido naquele silêncio, uns a abraçar a primeira matriarca, avó de Fernando, outros a contornar a segunda, mãe de mais outros três tios do jovem estudante público. Alguém até ensaiou palavras, brevemente percebidas, era uma certa cor de sofrimento naquela percepção e assim se viu melhor calado.
O relógio não bailou nem dez minutos de mais, e todos já eram saída. Alguns abraços, poucos telefones trocados, a noite era só um evento, não um mote para a família. Fernando percebeu algumas promessas diplomáticas, Algum dia apareço lá, e todos desenharam passado. Seu pai, ainda como de firme em pé, voltou ao balcão do Café Aleluia, pegando por sim mais um café, Vamos embora, meu amor?,perguntou mãe ao pai, Meu filho, traz o carro até aqui?, e assim fez Fernando, resignado. Após desligar o carro, viu que o pai ainda desfiava sobriedade e certo olhar de fortaleza. O café era a única forma de se chegar até ele, Deixa seu pai, ele precisa de um tempo sozinho.
Falso o pensamento o dela. O silêncio masculino nem sempre é tristeza, mas fruto da máxima incapacidade de se entender. De dentro do carro, já no banco de trás, conseguiu ver o pai dar o último gole naquele copinho de plástico e se virar após ter recebido o troco. Na parte de dentro do estabelecimento, havia o nome do local, como se servisse para lembrar onde todos estavam. Fernando viu o pai dar uma última olhada para aquele nome e o viu dizer amém, rindo.
Você está bem para dirigir, meu amor?, Melhor, impossível, disse. Dali, partiram para casa, e a única lembrança a se fiar é o nome do local, a guardar a sobriedade daquele pai que disse amém rindo, ou por resumo da piada daquele nome, ou por se livrar de algum peso. Amém pode ser fim de reza, ou pouco mais do que isso.
4 comentários:
muito bom calixto.
Fernando né? rs
mas é, enterros são momentos atípicos, por mais que já se tenha ido, há um ar diferente, não digo exclusivamente triste. Mas de reflexão mesmo.
Sim, são ambientes em que devemos realmente perceber o limite de todas as coisas, ou se dar a chance de criar limites...
Gostei muito da forma que vc se utilizou para caracterizar a frieza do pai de Fernando e o qto o próprio Fernando ficou surpreso. Gosto muitíssimo da forma do texto, o início em que o pai fala com o filho enquanto faz a barba, como se fosse um dia comum, vc trabalha muito bem com isso.
pois é, prosa é a sua praia...
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