Tenho sido um péssimo colunista. Até mesmo como mantenedor intelectual aqui do grupo, deveria dar mais o exemplo de escrever dentro dos limites aqui pedidos e publicar, publicar e publicar. Mas quem disse que consigo? Quem disse que o mundo deixa que eu publique? Por sorte, como um elo com o bom senso, aqueles que acompanham o site vêm sempre aqui, mas não se colocam como agentes de uma cobrança que geraria o nervosismo para a produção do texto. Hoje o escrevo, por conseguir ter um simples minuto de respiração. Mas não vou negar que me abstive de minha responsabilidade como colunista.
A principal causa se dá pelo fechamento de notas ao fim de ano, um problema comum a qualquer professor nesse período de quarto bimestre, ou momento de total desespero de todos por todas as partes. O mundo fica muito acelerado nesse período, e nós, professores, somos cobrados de todas as escolas ao mesmo tempo. Não vou negar, esse foi o principal motivo. Só que me há uma cobrança pessoal, íntima, na tentativa de concluir o meu romance. Todo santo dia abro o mesmo arquivo, leio e releio e me forço a escrever uma página por dia. Isso já é algo que faço há algum tempo, tenho que escrever uma página por dia e ler dez páginas de algum livro importante. Com esse período de fechamento de notas, essa organização pessoal tem também sido deixada de lado. A leitura, porém, consegui equilibrar; a escrita, não. Sou muito, mas muito lento para escrever. Acho que pelo excesso de detalhes, minúcias literárias, todo aquele floreio que julgo importante ter, já disse aqui, sou fã incontestável das metáforas, das redondilhas (dialéticas), dos parágrafos enriquecidos e não limitados em si mesmos. Escrever uma página é um custo violento. Um problema que não tenho com as crônicas.
Hoje estou nessa crônica aqui, dialogando com o título a ideia de ausência, de algo que não houve de ser feito e que tem me gerado uma saudade. A crônica é uma saudade, o humor tranquilo, mediocritus, também me é saudade. Uma saúde mais simplificada é outra. Tenho andado doente o mês inteiro, até por causa da saudade de minha avó Nancy, que faleceu início desse mês. Uma morte ainda não digerida, talvez nunca. Só mantive semanalmente a minha coluna no Trema Literatura, por causa da cobrança editorial. Estou com abstinência de uísque, abstinência de ter a sensação do término de um texto, abstinência de ter uma ideia para um conto, esse ano terei abstinência das comidas natalinas – meu trato digestório limitou-me a frutinhas pouco robustas – abstinência de não ficar no banheiro, de não ter dor no estômago, abstinência de poder viver a escrita de uma poesia.
Por sorte, terei abstinência da violência, do medo constante de andar no Rio, da minha barriga sempre a frente de algo muito pessoal, da minha conta no negativo, de algumas pessoas ruins que passaram na vida esse ano, da negatividade de um ambiente ruim de trabalho, do medo de perder o emprego, do chefe escroto que todos abominam a ponto de seu nome não ser proferido na Região em que moro. Só sinto também que 2010 passou muito rápido, tive pouco tempo para curtir algumas outras conquistas.
Espero sinceramente que este ano ano seja de uma benesse completa, sem sutilezas, que todos se vinguem dentro daquilo que almejam para si. Que minha banda decole, que meu livro se acabe, que meus sites e colunas continuem, que minha filha e esposa continuem belas e jovens e loucas a ponto de me amarem como dizem. Eu as amarei sempre, isso é inquestionável. Meu maior problema vai ser o dia em que eu tiver que dividir a minha filha com outro malandro e escutá-la dizendo Eu te Amo para outro, mas essa é uma abstinência – dela – que ainda terei muito tempo para sentir. Feliz Natal e um Ótimo Ano Novo para vocês.
3 comentários:
Posso ouvir o tic-tac dos tempos que permanece próximo aos ouvidos, sem cessar. A gente se imbui de afazeres e compromissos até se dar conta do que deixou de fazer, até acordar e perceber que nunca tinha visto aquela arvore florida no caminho que nos leva todo dia a algum lugar. Mas ainda não estamos completamente inconscientes, talvez cansados, talvez exaustos, mas ainda é possível se perguntar e escrever algo como "Abstinência" é. Tão sincero e minucioso que toca.
Sobretudo, desejo-lhes um olhar cadente. Uma atmosfera branda envolta dos lábios, algo que eleve de fora pra dentro e ao contrário também. Afinal, sempre há um novo ano para tentarmos de novo. Talvez por isso se chame Ano Novo. Mesmo que algum dia tudo isso acabe, ainda precisa permanecer o desejo de alçar voo pelas alças de nossas abstinências.
Sempre enriqueço quando passo por aqui!
Antes eu tivesse lido isso num momento anterior à escrita do meu texto. Que lindo comentário. Lindo mesmo!
Irmãozinho,
um 2011 repleto de saúde, realizações e objetivos cumpridos!
Desejo SEMPRE o melhor pra ti!
Grande Abraço!!!
2 Hambuuuuurguereeeees, alfaaaaaaaace, queijo e mooolho especial!!! =D
Postar um comentário