Estive durante
muito tempo pensando em voltar a escrever crônicas semanalmente. É possível? É,
dentro do que se considera possível. O
problema se reside na maneira como terei que me dispor e abrir mão da certeza
de que tenho ultimamente: o fim do meu primeiro romance.
Sei que já andei
escrevendo sobre ele aqui para o site. Alguns até dizem que ando me repetindo
ao ser tão metalinguístico em minhas análises, atuando apenas para o campo das
possibilidades de escrita do que para a escrita propriamente dita. Concordo,
até certo ponto, porém não nego que gosto muito dessa realidade de escrever, da
sensação que precede a escrita. Cresci, por bem, lendo autores que tinham como
marca a sensação da descoberta da letra, e não da letra em si, afirmada e
encontrada, casada em frases. Mas daquela se vem da percepção, do sentimento de
encontro com tal. Vejo que a literatura não é o encontro; é a sensação de
espera por tal. Sabe aquela expectativa antes do beijo – que em alguns casos é
muito melhor do que o beijo.
Uma situação que
me ocorre sempre é estar diante da tela, prompt piscando, exigindo, aí me vem
os versos de Drummond, Passei uma hora /
Pensando num verso / Que a pena não quer escrever/ Porém, ele está cá dentro /
Inquieto, vivo / Ele está cá dentro/E não quer sair, e ainda digo que vem
na voz de Belchior, que há algum tempo musicou trinta e um versos do mestre,
cada versão mais primorosa do que a outra. Lindo. Lindos. A literatura é a
sensação e venho-a curtindo tanto, mas tanto, que estou conseguindo escrever um
romance.
Acho que foi esse
o problema com o primeiro. Epopeia Insignificante – que muitos podem acessá-lo
aqui pelos marcadores do blog – me custou muito. A sensação de escrevê-lo
partia mais da responsabilidade do que prazer. Algo que está diferente com esse
atual, que resolvi guardar todos os detalhes para mim antes de mostrar a todos.
Para alguns eu até já falei, mas não cheguei a descrevê-lo em seus pormenores,
por um detalhe bem simples: eles não existem. O ritmo da escrita está se
definindo por ele próprio, cada parágrafo não sabe que será parágrafo; cada
linha não muito menos se conhece. Isso é que está sendo ótimo. Não tenho
domínio sobre o texto, apesar de pensá-lo, imaginar até onde quero chegar,
definir roteiro, literatice, mas para cada pensamento há algo mais vivo, maior.
Num primeiro momento até pensei, Não sou
capaz de escrever, pois tudo que penso se perde, essa entidade chamada
Literatura não aceita o que quero, ela tem pena de mim, por isso escreve por
mim, dessa maneira eu estou chegando a um livro. Esse foi o meu maior sonho
durante muito tempo.
Hoje o meu maior
sonho e continuar escrevendo, ou estar diante da sensação da escrita. Às vezes,
trânsito, penso num poema que nunca escreverei, mas lá está, sendo pensado,
digerido, raciocínio, uma rima, vou tirar essa rima, e não anoto. Nada. Alguns
até decoro e uso num texto ou outro, certo de que ele está entrando ali porque
o texto quer, não imposição.
Chego ao fim
dessa crônica não pelo intuito de escrevê-la, mas porque assim ela quis. É só o
ato do rabisco, mas sem papel, digitação. Um gosto eterno pelo prazer do
pensamento.
2 comentários:
I really love your blog!
Thanks, a lot, really! :)
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