quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Natal de 2014

Desta vez não teve árvore
Enfeites
Rostos felizes de noéis chineses
A soar barulhos incompreensíveis que aceitamos como músicas de Natal

Desta vez não teve correria
De uma preocupação quando a casa fosse se encher
Com parentes que já ansiavam ceia
E todos os quitutes guardados
O cheiro inundando a casa
A geladeira segregando garrafas pet de água
Para caber mais e mais doces estupidamente enormes
Rabanadas estupidamente amontoadas
A luz da mesma geladeira pedindo socorro
Tudo que poderia traduzir um feliz caos.

Aqui dentro jaz o silêncio do esquecido
Daquele que não merece mais ser parte
A única palavra que pensa é Vilipendiado
vi-lhe pendurado
será que após serei perdoado
da estupidez que adorna raciocínios?

Vão-me dizer que escolhi
Fruto permitido da ogiva desta sua tristeza
A contornar mágoa com uma máscara
De íntima iniquidade de existir
O que você fez será eternamente perdoado
Pelos remédios que consomem esta sua lucidez.

Lucy in the Sky of Diamonds
Todos dizem que é eterna sensação de elixir
Mas o que eu quero era poder estar aí
Ritmando o caminho
Engenheiro de obras prontas
A dizer
Que a quantidade estúpida de rabanadas será pouca
Que a quantidade estúpida de doces será pouca
Que o tamanho do chester, tender, presunto, arroz, uva passa, nozes, castanha, refrigerantes, bebidas das mais diversas e tudo de todo o outro que agora me vem à cabeça será pouco.

Agora tudo são lembranças
Tudo são esquecimentos
São mágoas
São reticências

Marco o Natal de 2014 pela ausência da árvore de Natal nesta casa enorme
Tão grande quanto toda a tristeza que hoje ela adorna
Toda a injustiça que dela aflora
Eu que sou vilipendiado
Maltratado
Esquecido
Invalidado
Sem direito a porta de entrada
Com a porta de saída tão escancarada
Lá há alguém que me chama
E diz, “Vem, não há mais volta. Essa sua vida foi só revolta. Entenda o todo em que te transformaram. Aqui também não há luz. E esta é nossa sorte, pois nada e tudo se confundem”.

E de lá que hei de aceitar o convite.
Para cear.
Pela última vez.


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