Foi
no terceiro fim de semana de Outubro deste turbulento 2014 que vivi uma
situação ímpar em minha carreira como professor e escritor. A convite de uma
pessoa que hoje tomo como exemplo para minha vida – como me são Petrônio, Meu
Seu Luiz, meus irmãos e Chico Torres, marcas de perseverança - eu fui fazer uma
palestra motivacional. A primeira em minha vida – na verdade, a primeira das
primeiras. E deparei-me com algo para lá de inusitado, daqueles que marcam a
pluralidade que hoje toma o todo que sou eu. Eu fui palestrar para um time de
futebol.
Eu
só fui descobrir mesmo quando diante do fato. Eu que não entendo de futebol ia
conversar com um grupo que simboliza a esperança do verdadeiro brasileiro.
Antes de mais nada, era um time para lá de misto – em síntese das realidades
cariocas – e que alimenta para si a glória da vida no gramado. Eu que nunca fui
do gramado – só quando era dono da bola – palestrava para um grupo já pronto
pro jogo. E atrás de mim o campo. Eles de uniforme. Eu de preto. A grama do
verde mais cintilante.
Por
sorte compunham comigo este que me convidou – Sérgio Exemplo – sua mãe e o pai
de um dos jogadores. Balizavam comigo um losango: eu a frente, Exemplo à minha
direita, o pai à esquerda e a mãe, lá atrás, orgulhosa que só. E não era à toa.
Fui juiz num momento em que muitos alimentam esperanças enormes, enormes até
demais, em cima do futebol. Algo que vemos hoje inclusive em programas de televisão.
Porém, na contramão de tudo, eu não simbolizava peneira ou regra, mas uma
síntese daquilo que move a vida. Comigo eu tinha um apito em forma de PowerPoint
e palavras de efeito.
E
a elas agradeço muito a ineficiência de minhas escolhas iniciais. Quando num
primeiro momento supus que não as encontraria e neles não chegaria, o que me
houve foi o inverso. Eu tinha tudo em mãos, todo um script de piadas ilustrativas,
conclusões chaves e caminho certo para o teatro de apertar botão e concluir
ideias. De nada me valeram. O que me valeu mesmo foi ver cada um daqueles
rostos ávidos não só pela bola, mas por um futuro. Senti neles a necessidade de
outras palavras, ali voando, transbordando na coerência daqueles olhares, no
júdice que faziam do sonho que possuíam e do mundo que os esperava. Do PowerPoint
eu não tinha como fugir, ele me serviu bem, foi condizente com a proposta.
Agradeço a Senna e Chris Gardner, pois ali me salvaram. Palavras mais certas do
que as minhas. Não à toa Senna é um herói ad
eternum.
Porém, não existe professor
que não aprende, escritor que não lê. O conhecimento e a vontade são inerentes
àqueles que movem a própria vida. Este que é novo Exemplo, bom aluno de uma das
melhores escolas do Rio, investe parte de seu precioso tempo em um projeto para
lá de ambicioso e fundamental para um mundo que hoje se constrói de individualidades
pela ostentação e fotinhas típicas de um excesso de exposição. Sérgio pode, num
primeiro momento, até se misturar nessa multidão de adolescentes preocupados
com suas mínimas diferenças em iguais. O que descobri nesse fim de semana –
digo até que um pouco antes do que isso – é que por trás daquela aparência de
estudioso e preocupado com o próprio futuro há um coração que pulsa muita alma.
Um adolescente – sem os arroubos de uma ideologia que o alimentaria normalmente
a essa preocupação – que move de si uma força na confiança plena do ser humano.
Ali estavam meninos que querem futebol.
Estava eu, a palestrar, a personificar uma educação pensada por Exemplo. Estavam
um pai, uma mãe, com aquele fervor de sangue a pensar nos filhos. Estava
Sérgio. Mal ele sabia: ele era toda a palestra.
Ganhei até uma caixa de bombons finos. Minha filha foi quem fez a festa quando os viu. Eu já tinha alimentado a minha esperança no homem. Saí dali com a certeza de ter encontrado toda a humanidade em renovação.
Ganhei até uma caixa de bombons finos. Minha filha foi quem fez a festa quando os viu. Eu já tinha alimentado a minha esperança no homem. Saí dali com a certeza de ter encontrado toda a humanidade em renovação.
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