Havia nele sempre a mesma música. Era uma baladinha de sete toques, que faziam sete sílabas, rimadas sempre na hora. A facilidade das rimas, e não da música, era que chamava a atenção do público das mesmas calçadas lotadas. Era sempre um dinheirinho a mais, sabe aquele o-não-muito, mas dava pro gasto e pra cachaça.
Só que um dia, uma mulher lhe tomou os olhos. E com ela, foi-se o pensamento, a rima e o toque. O amigo da baladinha percebeu fugacidade e chamou a responsabilidade para si. Com a ida da moça, a caixa em que se apoiava passava a ter mais responsabilidade, pois o baladeiro repentista exigia mais de sua força e equilíbrio. Porém, ou por sorte, a caixa não se rompera. Ele, no entanto, desceu dela e foi atrás da moça.
Por lógica da natureza, quanto mais próximo dos olhos são as pessoas, mais longe são do pensamento e da suposição. Ao chegar mais perto, viu que a bela moça era uma menina, com poucos mais de década de vida, e que não poderia ser ali aquela mulher de antes, lás dos muitos anos, lá dos muitos cantos, lá, bem de lá, dos muitos. Ela se sentiu um tanto ruborizada, aqueles olhos, lá no seu entanto também, não eram tão desconhecidos, não eram aqueles uns tantos desconhecidos dos muitos que se passam. Ele, ali, não era um ex, mas era um alguém.
O suspiro dele foi um pedido de desculpa. O violão voltou para frente e outras desculpas fônicas foram pedidas ao companheiro. A moça, na sutilidade de seus passos, pega da carteira e retorna aos violeiros.
De repente, o repente, a música e a voz. Era um som um tanto de diferente, e ela lá no longe de alguns passos atrás, vê a foto da mãe com um homem. Mas havia o passado da juventude, o volume de cabelos e menos traços físicos dos tempos. Naquela foto não tinha o violeiro, nem a balada, existiam a mãe e um homem, que não tocava violão.
Mas ficou o repente, o de repente.
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