terça-feira, 29 de setembro de 2009

Lividez.

Reafirmar que não tenho tempo para escrever pode soar redundante. Como o é. Mas para um escritor amador pela falta de uma banca rítmica financeira, mas profissional em sua vontade de ser escritor posso me dar a liberdade de afirmar minha redundância. O ato de gostar de escrever me leva sempre para os teclados. É uma forma de existir, ou de me manter vivo.
É engraçado como encontramos formas de julgar necessária a nossa existência. A vida é apenas um invólucro de carne, uma linearidade entre os órgãos, uma simbiose entre os fluidos. Distante disso, a vida é apenas a consistência de se manter vivo. Mas como humanos, a nossa carne se treme de consciência, e esta – essência da alma – faz com que nos modifiquemos em nossas convicções. Hoje estou aqui para escrever sobre a vida – ou a arte do equilíbrio do corpo.
Biologicamente sabemos que a vida é uma consideração dos sistemas. Quimicamente a vida é uma ordenação de Carbono Hidrogênio Oxigênio e Nitrogênio. Não mais do que isso. Astronomicamente a vida é uma consequência da morte de Estrelas, que puderam fornecer matéria química para a vida. Tudo bem, existem os seres unicelulares, unindo-se, multiplicando-se, até chegar a tudo que conhecemos. Religiosamente a vida é uma dádiva. Para outros, a vida é um claustro, para alguns apenas uma bela merda, mas na maneira que ela vem, ela vai. Tudo bem, mesmo com essa nova redundância, a vida é apenas um artifício dos equilíbrios, espinhado pela vida moderna e seus cânceres e violências. E como vivos, violentamo-nos para que a vida se faça vida, ou algo que possamos suportar. Transformamos nossa capacidade em clausura para outros, criamos um sistema de organização, trouxemo-nos o dinheiro, trocamos coisas em função de importâncias chulas e tudo mais que a modernidade trouxe de questionável – todos já sabemos. Mas a experiência de vida – o prazer – é que deve ser realmente a grande intenção de nossa consciência. E passamos a evitá-la. Houve uma propaganda que ousava afirmar que a vida só começa aos 55 anos. Sim, somente depois que se aposenta. Até lá você é escravo da sociedade, do mundo, da engrenagem que move as montanhas financeiras. Sempre me causou repugnância o fato de vivermos só para o dinheiro – apesar de já ter vivido para ele. O dinheiro é importante, mas ele não é o todo. Outra redundância. Só que o fato de vivermos as mesmas consistências tem me incomodado um pouco.
Não sei se devemos apenas ser burocracia. Não sei se devemos ser apenas dinheiro. Não sei se também devemos ser só amigos. A vida é um equilíbrio que deve respeitar suas ambições, e esta não deve ser sinônimo de dinheiro. Sei que o discurso já é de domínio público, mas certos clichês deveriam ganhar o patamar de pedestal. Este é um. Eu até estava esperançoso com uma possível Nova Ordem Mundial com essa questão da crise. Pensei que pudesse ver pessoas – um tanto número maior do que hoje – que vivessem a consciência de que o dinheiro deve apenas existir para sustento. Ele não é reflexo de sua grandiosidade. Até porque ser grande não é estar no mais alto andar de sua empresa. Tudo bem, você quis a vida inteira dirigir uma Ferrari – eu também quero – mas será que vale a pena se vender por tudo isso? Esse é meu ponto. Hoje eu trabalho para pagar os carros e a casa. Depois que terminá-los, vou pagar as viagens que quero. Não busco uma casa maior. Não busco o carro dos melhores. Gosto de carros. Gosto da casa. Mas sucesso é viver tudo no aumentativo?
Não quero apenas defender uma mesma bandeira. Mas a vida é apenas a consistência de que ela não é apenas peremptória, mas deve ser vivida como Carpe Diem. Sei que com o tempo haverá aqueles que possam pertencer a essa percepção. Até conheço alguns que escolheram essa filosofia por uma pura questão de escolha, não por limitação de suas capacidades. Tomara que isso se torne uma constância. Quem sabe, uma Nova Ordem. Sei que hoje escrevi autoajuda, uma nova redundância social. Mas e daí? A arte de escrever deve apenas retratar uma consciência. Nesse caso, minha vida é isso. Sorte minha que escrevi até aqui. Graças a Deus.

domingo, 27 de setembro de 2009

Na minha casa, a cama está sempre desarrumada

Ela já chegou reclamando, Por que você não arruma isso?, e evitei responder. Não gostaria de dizer para ela que estava terminando com a outra só para ficar com ela. E de quem é esse cheiro de perfume barato?, e também não respondi, apenas disse que eu estava fudendo.
Mesmo afirmando que não tinha respondido, dizer que estava fudendo é uma danada de uma resposta. Ela me deu uma porrada na cara, dizendo que isso não se diz, mas se sentiu condescendente quando viu que cuspia sangue. O seu Ai, Meu Deus, eu não queria isso me soou uma das melhores desculpas que ela já usou para se chegar até mim. Eu a beijei, enchendo-a de sangue firme. Ela revirou um pouco o rosto, mas não tentava fugir. Mesmo com gosto de sangue, eu sabia que sabia beijar bem. E sei que sim. Eu a beijei, como deveria beijar sempre. Até porque eu iria ficar só com ela, e ela era um trepadão. Eu deixei a primeira porque ela usava muito dente. Teve uma que teve a cara de pau de peidar debaixo do meu lençol. Achei aquilo um disparate. Respondi que no meu lençol peido eu. E ela foi embora, deixando a calcinha. Dei descarga naquela porra e apaguei seu telefone do celular. Sabe, não devia, pois ela me ligou dias depois dizendo que queria a calcinha. Disse que tinha dado aos cachorros, eles é que gostavam de cheiro de merda. Era gostosa – uma das vantagens da lábia – mas no meu lençol, só peido meu. Essa que me beija agora parece que sente o pacto de sangue se tornar mais firme. Chupando a minha língua, como se fosse algo terapêutico, acabou engolindo meu dente. Agora estamos juntos, disse eu, abrindo meu zíper.
Saiu da minha língua, deixou o protocolo da minha barriga – nunca fui muito fã desse negócio de passar a língua pela minha barriga, até porque era a parte mais feia do meu corpo, parecia que toda mulher que me beijava a barriga estava dizendo que aceitava a minha feiura e fodia assim mesmo – e caiu de boca no fato. Não vou dizer que eu estava intumescido, porque eu não estava, tinha fudido por duas horas antes dela chegar. Mas ela é mais gostosa, sabe o que fazer mesmo. Eu ainda cuspia sangue. Pelo menos, essa não morde, pensei.
Não tava muito afim daquilo não. Eu a puxei pra cima, a joguei pra cima da cama, ela espirrou, o perfume que tava era barato mesmo – mulher fresca ducaralho, perfume barato faz a gente beber mais cerveja no final do mês – mas era ela quem eu tinha escolhido. Nunca consigo esquecer o dia em que vi aquele rabo pela primeira vez. Tinha muito pentelho, eu sei que você sabe, mas e daí? Não era uma bunda linda? Não me pergunte como tive fôlego para comê-la por mais uma hora. A outra já tinha me feito gozar por três vezes, aquela seria a quarta. Um bom número para uma brisa de segunda-feira. Amanhã eu ia ter que voltar a procurar emprego, tentar pagar a porra do aluguel do barraco, essa favela é por demais calma, aqui os safados não vendem com fuzil. Eles têm página na internet e delivery com motoboy. Ainda vinha uma pizza junto. Era barato. Quando eu queria uma pizza mesmo, eu tinha que avisar que era para vir com Guaraná.
Ela encravou a unha na minha perna. Eu gostava quando ela fazia isso. Te juro que preferia quando ela agarrava assim a minha bunda, quando me engolia todo. Mas na perna é também maneiro. Era uma coisa que eu pedia sempre, não me arranha, só pra essa poder me arranhar. Ela tinha um jeito especial de colocar as unhas. Não sei o que ela fazia, mas não infeccionava. Deixava apenas aquele gosto gelado do arranhado, uma sensação boa de dor leve, sem sangrar, mas com o tom vermelho da unha que se desenhou ali. Gosto da foda com dor, mas não sempre. É bom deixar a rola esfolada. Sabe, aquela dor de inchado. Assim como fica quando se é arranhado. Pois é, eu gosto.
Na segunda arranhada ela gozou. Deu pra ver como o meu ficou todo cheio de leite. Ela também tinha esse diferencial, gozava mermo. Sem dó, nem piedade. Eu gosto dela porque até fodendo ela é sincera. Com o tempo, você vai ver que mulher sincera é melhor, porque ela não fica naquele caozinho de dizer um não romântico. Não sou muita fã dessa melaçãozinha não. Ta vendo esse botãozinho? Põe aí, vai? , não tem como não ficar apaixonado por uma mulher dessa. É engraçado, não pensei que fosse me apaixonar quando estivesse assim, coroa. Disse que ia gozar. Ela não me deixou sair dali de trás e disse pra não ter piedade. Era bom, pois assim sabia que não ia ser pai, a não ser que ela ficasse corcunda. Gozei pouco, mas gozei. Ainda ter porra na quarta trepada é um fato que merecia festa.
Depois da foda, ela dormiu. Eu nunca consegui. Precisava ficar andando, balançando o meu para ver se desinchava um pouco. Não durou nem dez minutos quando recebi uma mensagem no telefone. Terminei com ele. A pensão será boa. Tô arrumando as coisas. Passo a noite aí, ctg. Espero que não teja com sonu. Bjus. Não podia deixar aquela com quem eu ia passar o resto da minha vida comigo ali dormindo. Eu a acordei. E terminei tudo, pois ainda não era a hora de amá-la para sempre. Não agora.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sexta às nove (16)

Sua dose semanal de remédio musical.



Essa canção é de Luiz Tatit. Esse cara é um professor universitário que estuda, dentre outras coisas, como as palavras, agrupadas de certa forma tem melodia própria. Se é possível fazer canções com o mínimo de melodia e explorando as palavras ditas puramente. Será que dá?

Zélia Duncan Responde! rs

Aproveite!

sábado, 19 de setembro de 2009

ANO I – Meu primeiro aniversário.

Falei isso para um amigo e ele ficou chocado: nunca gostei de meu aniversário. Esse amigo em particular é daqueles homens carpedianos, que pensam que a vida vai acabar no próximo segundo. Por isso, ele vive uma plenitude ininterrupta, quase bacante, inimaginada. Eu não. Para mim, a comemoração do aniversário era apenas uma formalização do nascimento e que servia para comemorar a data em que veio ao mundo, e não a velhice, a conquista de mais um ano, a graciosidade de se fazer vivo. Porém, agora vivo algo diferente: eu vivo a minha casa.
É como se eu tivesse acabado de nascer. O mundo é meu, da minha filha e da minha esposa. Sabe, todos os meus aniversários eram coadjuvantes de alguma outra comemoração. Pelo que me lembro, ou eu comemorei junto com meu irmão, Fabinho, ou com meu pai, meu Seu Luis, que faziam um mês antes ou um mês depois. Nunca era na data mesmo. E as comemorações, quando exclusivas, respeitavam certas limitações financeiras pelas quais a família passava. Então, o que há de se comemorar? Lembro bem o meu aniversário de dez anos. Foi para gente uma época ímpar, porque os meus pais resolveram criar-nos em uma casa. Compraram um terreno na mesma rua de nosso apartamento, fizeram uma casa que levou mais tempo do que deveria para ficar pronta, em certa época, a limitação de grana foi tanta que eles viraram pedreiros. Lembro também o fato de eu ter que fazer sanduíches para eles conseguirem suportar a fome – assim afirmavam. E num dado momento, no apartamento em que morávamos de aluguel – pois o outro fora vendido para custear ainda mais aquela faraônica obra – eles me fizeram uma festa. Linda, por sinal. No fundo, na filmagem – feita por um vizinho – havia Emílio Santiago cantando horrores, e o refrão “Anoiteceu, olho pro seu beijo, como é bom” tornou-se um tanto metafórico, pois eu fazia dez anos, uma década, uma nova perspectiva. Aprendi ali que não devia pedir nada aos meus pais, por causa do esforço que faziam. Passei a trabalhar cedo para não dar mais custos a eles. Senti que era um dever meu ajudar a criar os outros dois. Eu era o primeiro, precisava não somente dar o exemplo, mas apadrinhá-los como meus. E somente hoje eu vejo a raiz do meu vício pelo trabalho. Papai mesmo um dia me perguntou o porquê de eu não pedir nada a eles, não soube responder. Acho que encontrei o motivo agora.
Eu não curti nada daquela festa. Não que tenha sido ruim, lembro meu padrinho rindo de se acabar, meus primos, dos dois lados da família, por lá. Não lembro o bolo, não lembro os salgadinhos. A filmagem substituiu minhas memórias. As duas únicas coisas que me lembro daquele apartamento é meu irmão com o dedo inchado por causa de uma abelha e meu outro irmão, o Riquinho, tentando estancar os ininterruptos sangramentos do nariz. Famosíssima adenoide, que voltou ao lugar, como que por mágica. Mais tarde, nessa mesma casa, lembro um outro aniversário que vivi junto com meu pai, era a data dele, amigos de minha mãe, uma ex-namorada minha, um punhado de amigos que fui pegar, nada de muito. Uma amiga da minha mãe, a hipocondríaca, afirmou que minha namorada era até feinha. Tadinha, não era não. Mas ela contribuiu e muito para minhas descobertas vindouras. Aquele havia sido meu último aniversário acompanhado de meus parentes diretos. Nem hegemonia na minha data eu tinha. Eu a dividia com a filha de um amigo do meu pai.
Depois disso, meus aniversários eram coletivos a sogros. Eu não era o motivo da comemoração. Tuninho, esse meu O SOGRO era dia 17 de setembro. Com ele, não vou negar, até curti algo, mas pena que foi pouco. Só que a conversa que tive com o amigo sobre a comemoração me despertou. Somada a minha esposa estar combinando com minha mãe uma comemoração modesta – nada de excessos, graças a Deus – e agora o fato da vida ter se tornado completa, passei a ver a data com outros olhos. Esse ano será num sábado o 19 de setembro, hoje, e como sábado que é, será um descanso. Um descanso de todo esse turbilhão inapropriado que criamos para nós mesmos e que agora merece uma reinvenção. O aniversário, que será na minha casa, será meu aniversário. Renasço aos 30 anos, número que já me fez escrever um não sei quanto de textos aqui retratando a perspectiva que se cria aos 30. Agora, como útero literário, crio um renascimento com o fim de poder saborear mais a vida. Porém, não irei influenciar o que irá acontecer nele. Quero apenas que venham, curtam a casa como estarei curtindo, se quiserem cair bêbados, eu ficarei muito feliz. Se quiserem passar a noite, também será de muito agrado, pois eu a comprei com tais dimensões não à toa. Antes eu era um misógino misantropo, fechado na desculpa da inadaptação ao mundo, apenas dando voz à minha timidez persistente. Ainda não a venci, sou tímido bagarai, sinto aquele eterno medo de falar com pessoas novas, com as quais não me acostumei. Ainda sofro de menos valia, que suponho que nunca será vencida, mas apenas a demonstro aqui no texto. Lá na casa comemorarei um novo bem-estar. Pensei que nunca fosse vencer isso, mas consegui. Quem disse que precisei de terapia? Tudo bem, eu tive um terapeuta, meu amigo pessoal João Andador.
Nem sei bem o que irá acontecer hoje. Nem quero estipular. Mas tirei esse dia para comemorar-me. Espero que você que está lendo possa vir aqui. Sinta-se convidado agora para vir, eu vou onde que for para te trazer. Será um nascimento filmado, comemorado e bebido e fumado. Muita comida, muita música, muito espaço. Venha, pois hoje eu estou nascendo. Só não traga mantinhas, venha com muito engov e fome em excesso, e quero muitas piadas, das maiores, das melhores. Rir com o mesquinho da piada ruim é que vale a pena. Não se sinta acanhado, pois desta vez eu estou nascendo, bem aos meus 30 anos. Feliz Aniversário para mim!
N.E: Um outro detalhe, anos mais tarde descobri que a música Saigon tinha uma outra letra: “Anoiteceu, olho PRO CÉU E VEJO como é bom”. Trecho modificado hoje, aos meus trinta, como talvez uma forma de agradecimento. Lá em cima está Tuninho comemorando, eu aqui em baixo. Essa dose é pra você, véi. Feliz Aniversário para todos. Até para mim, dessa vez.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sexta às nove (15)

Sua dose semanal de remédio musical.



Dessa vez foi uma coisa... alternativa! rs

Aproveite!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sexta às nove (14)

Sua dose semanal de remédio musical.

Bobby está de volta, agora com Robin Willians, ele mesmo, o ator!

bom, confesso que não postei essa pela letra, tão somente pela melodia. Tenho começado a prestar mais atenção nessa parte das musicas, uma parte que, pelo menos por mim era muito relevada. Mas que descubro a cada dia ser mais e mais importante.

E então, com a voz engraçadinha de Robin Willians com os arranjos do mestre Bobby Mcferrin!




Aproveite.

sábado, 5 de setembro de 2009

Parnasiannus Cannabis

Conheci um bom amigo na época de faculdade. Seu nome: Paulo César Farias Júnior. Apesar do nome, nada de político tem. O que lhe fôra famoso era uma cabeleira não muito densa, mas uma condição única de falar. Pc trepava palavras. Somava uma à outra com uma formidável capacidade de uni-las. Nada que fosse ruim, ou deveras impossível de entender, mas se dependesse do seu dia, sua ansiedade as transformava em um único sibilo, que os mais desavisados seriam incapazes de compreender. Quando via que seria impossível dar contornos de unicidade às palavras, desrespeitando os limites de cada uma, ele recorria a um recurso para lá de terapêutico.
Judeu, amigo nosso em comum – hoje colunista Pictoresco e Trema – deu-lhe logo alcunha, Já sei como chamá-lo, Parnasianus Cannabis, e o era. Havia arte na capacidade de preparo da danada. Houve uma vez que o amigo levou uma hora fazendo o preparado terapêutico que traduzia calma às suas palavras, dava finitude, ritmo, quase que uma musicalidade imaginada. Quando Paulo se era Parnasianus, era também a mistura didática de Marx e Hobsbawn, como que sintética, direta, unicelular de pensadores ativos e vivos. Era de um sintagma para lá de bem colocado, frases ordenadas, dentes que não se colidiam, um assombro de equilíbrio. E vê-lo fazendo o preparado dava gosto. Por pouca sorte, na nossa época, os celulares já com câmeras não guardavam vídeos. Pc organizava sobre folhas purificadas a solicitada quantia. Numa outra parte, era deixada a folhinha que serviria para dar suporte ao preparado. Com um cartão plástico – Telefônicos são melhores – ele ia ritmicamente batendo até que pedaços maiores fossem reduzidos. Milimetricamente todos pareciam iguais. E Pc, como um artista que era, viu que todos estavam ajustados a um tamanho coeso, justificável, pronto para a embalagem final. Aí que entra a razão da folha purificada maior, um A4 ou ofício, não lembro bem o tamanho, mas afunilada em uma medida para lá de exata. O preparado corria para a última folhinha e dali havia o enrolo. De um dos cigarros de seu maço, ele cortava parte do filtro, e como se fosse uma máquina de fazer cigarros, Pc possuía em mãos o Mestre da Delicadeza, o Material de Amplitude de Percepção, o Controlador de Ritmo.
Acender era outra arte. Só podia tocar a parte amarela da chama. Afirmava que a azul intoxicava, e realmente acontecia. Ele possuía um isqueiro amarelo – quase como uma lembrança da chama – e acendia o preparado, dando-lhe vida. Antes de mais nada, vale a pena ressaltar que Pc não era de sorrisos pós-tragada. Segurava o que podia, olhava com serenidade que era conferida, soltava aquilo que se precisava. Eu e Judeu não éramos detentores da vontade que se resumia no preparado, mas não correríamos a uma outra sala para ficar longe do característico valor odorífero que se corria. Ali éramos os todos de sempre. Um outro amigo, Pablo Bin Laden, aquele que um dia afirmou que os EUA tomaram Bin Laden-tro, o acompanhava. Dava gosto vê-los na perfeição parnasiana daquele preparado. Era uma Arte sobre Arte, sob Arte, sobriar-te. E assim Pc era a sobriedade. Pablo era a velocidade. Mas Pablo será outro texto. Não o agora.
Dia 25 de Agosto foi seu aniversário. Ultimamente, por pura questão de tempos, venho a escrever sobre os adolescentes amigos que se migram para o adulto. Um em especial, André, também Pictoresco, afirmou sofrer da mesma síndrome de Peter Pan, e me disse que a vida é isso mesmo, medo da velhice, e por isso tornamo-nos mais sensíveis com o tempo. Pc é mais um na casa dos trintões, hoje com dois filhos, casado e morando longe, mas muito longe. Está morando em Volta Redonda, fora criado aqui pelas bandas de Araruama e está dando aula de História. Não é daqueles professores de História que usa a ciência unida com a estética do hippie. Suas roupas são normais. Sempre o vi mesmo com uma blusa pólo com marca de empresa de informática, de PCs, seu outro hobby. Sei que hoje tem uma empresa de internet – ele une PCs em Volta Redonda. Agora que está pela Cidade do Aço, unindo redes e computadores, só lhe falta unir-se aos antigos, aos do passado, que ainda dizem EU TE AMO, SEU PILANTRA, mesmo depois de tanto tempo. Feliz Aniversário, eu tenho um vasinho de planta te esperando na minha nova casa.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sexta às nove (13)

Sua dose semanal de remédio musical.



É legal num musica quando a gente descobre a história que há por trás. Você pode acabar gostando mais dela... ou não!

Felizmente nesse caso o resultado foi positivo.

Me disseram, logo a história não tem uma comprovação oficial. Mas me disseram que essa musica conta a história de um casal de velhinhos que moravam num antigo edifício em brasília. O mesmo estava para ser demolido para que se construísse no lugar casas para parlamentares. Porém, ao serem notificados do fato e obrigados a deixarem sua casa, o casal se resignou e disse não sair de lá de forma alguma, mesmo que morresem ali. O dia da demolição chegou e as máquinas estava prontas para demolir o prédio. Um último pedido para que eles saíssem foi feito, ao que o casal respondeu: "Nós não vamos sair daqui, nosso amor nasceu aqui e vai morrer aqui."

O que aconteceu depois, me falha a memória. Só lembro de saber que no momento da música que o Baterista faz um solo, este serve para representar as máquinas derrubando o prédio.

"Veja você como é que tudo foi desabar. A gente corre pra se esconder e se amar, se amar até o fim. Sem saber que o fim já vai chegar. Deixa o moço bater, que eu cansei da nossa fuga. Já não vejo motivos prum amor de tantas rugas não ter o seu lugar."

Aproveite.

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