sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Viagem de volta

De onde vem
essa saudade,
que me traz ao rosto
esse vendaval?

Onde vai dar
essa estrada desplainada,
que força ao longe
e me faz chorar?

Ah, e diz
como eu trago de volta
o teu riso, a tua cor

Me diz
o que eu faço com essa dor

Me diz onde eu laço
onde eu guardo o cansaço

Me diga onde está você
e quando eu posso voltar,

meu amor.

Olha o que eu acabei de descobrir

Uma editora independente,
que precisa ser divulgada!

Boa Iniciativa

www.osviralata.com.br

Insalobra a hora da tua vida


(Adendo - resolvi hoje escrever uma poesia - algo de que não detenho muitas capacidades e por isso preciso fazer tal adendo. Na verdade, o texto surgiu como poesia e descambou para a música. Pois então, isto é uma letra de música - algo que espero um dia conseguir musicalizar com minha banda, boa leitura)







No fora além de suas forças
na íntima veeméncia de tua derrota
na força de uma passado de aurora morta
o amarelo doce desta tua forca

Agora que não é mais pessoa
que a fome da decepção te corroa
Agora que pede cordialidade
Nos olhos famintos, a falta de humanidade

Saberia você ser humano
Na alma de ser carcamano
A hora reescreve sua história
Vitória antiga, endemoniada derrota.

(Refrão)
Mal sabe, você senhor
qual é a marca do próprio horror
de saber que a própria vitória
não dignifica a própria história
seu nome jogado aos trapos
de um passado sem sombra de glória
e agora se cria a derrota
mais íntima a neblina não-morta

A pureza desta tua lágrima
de olhos já aposentados
encostado ao prazer do tempo
só se sente a corrosão do vento.
Passando os tiques em casa
a morte tem prazer e te aguarda

Não adianta prezar por cleméncia
saber que o mundo não te adora
num passado sem filhos amados
e mulheres que não te abrem a porta
será esquelético moribundo
sombra sem brilho de mundo
jogado, de joelhos calcinados,
esperando doença que a leva a consciência

(retorno ao refrão)
Mal sabe, você senhor
qual é a marca do próprio horror
de saber que a própria vitória
não dignifica a própria história
seu nome jogado aos trapos
de um passado sem sombra de glória
e agora se cria a derrota
mais íntima a neblina não-morta

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

vento

Verde mar diante dos meus olhos
movimento sistemático
mesmo que aleatório... parece ensaiado
como ondas se movem esses dosséis

Cativa meus olhos
a tão indescritível beleza dessa dança
em que cada folha se entrega
ao compasso que pelo vento é ditado

Majestoso espetáculo
prazeroso aos olhos descobertos
pura beleza e simplicidade
só aos olhos não acostumados

aí passa...

Bananeiras, amendoeiras
todas as formas e tamanhos
frondoroso e vivo verde...
esquelético e moribundo cinza...

Cada uma tem sua beleza
tem a peculiaridade
que a torna singular
linda...

No misto de tonalidades
diversidade de vida
me trouxe esperança
nesse estranho fim de tarde

onde, na terra do medo, me encontrei
desnecessariamente ansioso,
com o temor de que leve tristeza da saudade
se concretizasse na dor do indesejado

de ser chamado de perturbador
pesado, irrelevante e excedente
o que com tanto cuidado
foi esperançosamente cultivado

Naquela tarde aquilo acabou
pois entendi, ao contemplar as amigas árvores
que, da delicada rosa no canteiro,
à mais pesada sequóia...

o vento move todas as coisas.

Sem assunto

esse poema fiz assim
sem pretensão
sem assunto

sem ritmo
sem rima
sem você..

queria ter você aqui
abraçá-la forte,
para te sentir o coração bater

te fazer um cafuné

ver o brilho nos teus olhos
tão forte, enxergo os meus
e me perder...

não quero me prolongar,
não quero ser prolixo
e mandar o poema pro lixo

me despeço nesse instante
seu poeta da viola
seu samurai, seu plebeu

vou pegar o violão
e cantar minha saudade...
queria ter você aqui

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A veeméncia de um bom passado.

Ah! A nostalgia. Como é bom saborear o passado. Pena nunca haver uma maneira de revivê-lo ou estipular uma forma de ele sempre se fazer vivo, a não ser pela lembrança. Nostalgia é apenas sensação e nada mais.

Um dia desses lembrei-me de meu pai tentando me ensinar a soltar pipas; Sou daquela geração vítima dos prédios e das cercas sociais e meu contato com a poeira da infância e com as fajutices das bobas discussões sobre uma falta não-marcada nunca me aconteceram. Na verdade, nem bola sei jogar. E também me foi sublimada a pipa. Porém, a lembrança do meu pai tomando conta da situação é que quase me fez chorar por pouco ter percebido naquela época como aquilo me foi bom. Não tenho pretensões de ir aprender a empinar pipas, mas sei que ali não era meu pai, era o antigo menino na carapuça de adulto.

Lá de cima do apartamento, minha mãe gritava o ridículo de um velho soltando pipas enquanto devia ensinar. Até parecia que o velho tinha me roubado um doce ou algo pior. Mamãe não percebera que não era papai, era um garoto que eu nunca teria chances de conhecer, a não ser pelas nostalgias do meu coroa. Aquela era uma boa lembrança.

A nostalgia é o romantismo tomando as rédeas, a saudade em forma de escapismo. Porém, não como fuga de uma realidade ruim, posto que todas as realidades sejam ruins, mas é através desta mesma realidade que devemos dar chances para as nostalgias – ruins ou não, inventadas ou não – pois sem realidade não há vontade para as tais.

Penso que uma pergunta tenha vindo de surpresa àqueles que me leem agora. Como a realidade pode ser ruim, já que gera boas lembranças? Perceba – e agora faço jus ao didatismo fruto de minha profissão -, pense em um dia de futebol e churrasco com os amigos. Aquela boa cerveja, aquela carnezinha no ponto certo, tudo da mais singela perfeição. Uma hora o futebol acaba, a cerveja não mais existe e a carninha não mais está lá. Tudo é posto ao fim, a um limite, a um claro término. É a morte em instantâneo de câmara fotográfica, estático e limitado. Mas como uma foto, a realidade gera lembrança, e aí reside a beleza dos fatos, a veeméncia da vida. Este passado que cutuca o coração e se brota em um sorriso bobo. E não precisa de muito para as nostalgias. Às vezes, um belo por do Sol já basta.

Por isso, não recrimino mamãe pelo que fez. Ela apenas trouxe papai para o nublado da certeza de sua obrigação, o plúmbeo gosto de sua idade e razão de estar ali, mas ela me deu margem para ver que a vida se vive até ontem e que hoje é só uma chance a mais para criar vida. E ponto final.

O bem-estar da lucidez

Não sei bem o motivo pelo qual há de se criar um demónio sobre a rotina. Para muitos, tem o semblante do estático, do moroso, do monótono, e por tal devemos, como modernos e cosmopolitas que somos, evitá-lo a todo custo. Digo até que evitar a rotina é a rotina daqueles que a evitam. Mas saiba, a rotina é o caminho da vida, o equilíbrio das sensações, a pureza dos sentidos, e por isso a vejo como a base do amor ou a simbiose que gera a tranquilidade de um bom relacionamento.
Devemos vê-la como algo benéfico. Porém, não vou negar, aqueles que a abominam é porque se tornaram vítimas das circunstâncias pelas quais foram levados a tal. É aí que reside o problema da rotina; vitimadora que é, limita as auroras diárias a meras constâncias de minutos, logo uma chatice só. A rotina precisa ser desenhada como o equilíbrio, a balança estatizada, valendo todos os pesos como um algo só.
Pense em um casamento. Todos eles caminharão para uma rotina, isto é fato. Mas o que deve ser encarado como belo e sublime é a maneira como se forma esta rotina. A esposa cozinhando todos os dias, o marido que lava a louça, dia sim dia não um pega a criança na escola. Esta síntese, por mais chata que se valha, é na verdade o amor em sua esséncia. Perceba: quem melhor para cozinhar do que se não ela? Quem melhor para lavar do que se não ele? Tudo bem, que um dia ele cozinhe e ela lave. Não é quebra de rotina, é o senso do equilíbrio e do respeito ao próximo, também entra naquela de fazer diferente, agradar ao outro, com todas as vantagens da sinceridade.
Isto é ruim? Talvez ainda haja aquele que não goste do cotidiano, mas se quebrar rotina significa fazer loucura todos os dias, este nunca vai encontrar paz propriamente dita. Aí sou eu que pergunto: do que vale a pena viver a loucura se não há ninguém para dividi-la? E sou um pouco contrário ao fato de viver apenas com amigos, ou por eles. Amigos são belos, mas são uma fraternidade, e não uma família. Toda fraternidade é bela, toda família é linda. E o sorriso da vida não está nos porres homéricos e nas nostalgias das noites bem passadas, mas na soma de história que se faz na dedicação a um. Por isso, rotina não é ruim, é apenas o elixir da vida em si. E rotina só se vive a dois, pois os filhos são para o mundo. E por mais que exista alguém que acredite que a vida a dois e rotina sejam ruins, é porque o camarada ainda não amou.
Tudo bem, todos devemos viver nossas loucuras, e a loucura precisa ser vivida, mas ela é limítrofe, a loucura se cansa de si. Rotina não, como ato de equilíbrio, ela pode instabilizar corações instáveis, mas estes mesmos corações precisam entender que uma vida de paz traz vida, e que viver sempre vale a pena, por mais calma que seja. Isto é lucidez. E que assim seja.

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