domingo, 28 de fevereiro de 2010

Fidelidade x Lealdade


Tenho refletido sobre a questão da fidelidade e quanto eu mais eu penso a respeito, menos eu a compreendo. Não consigo entender por que as pessoas insistem tanto nesse ponto. A maioria acha que fidelidade é prova de amor, mas para mim amar é querer que o outro seja feliz e pleno. E como alguém pode ser feliz se tiver que se anular e reprimir sua natureza? Claro que não podemos dar vazão a todos os nossos instintos, caso contrário, viveríamos no caos, nos mataríamos uns aos outros, o estupro correria solto, entre tantas outras abominações. Verdade que estamos a caminho, mas ainda não nos tornamos piores do que Sodoma e Gomorra. Ainda assim fico pensando qual o propósito da fidelidade?
Já viram como os homens têm uma outra visão da fidelidade? Como eles sabem separar sexo de amor? Para eles, sair com uma outra mulher que não a sua companheira, não significa que eles não a amem mais ou que não sintam mais desejo por sua namorada ou esposa, significa tão somente que eles se sentiram atraídos por uma outra fêmea e seguiram seus instintos. No entanto, as mulheres fazem um “cavalo de batalha” porque acham que estão sendo traídas. Se agarram à fidelidade como se esta fosse o único meio para manter uma relação, como se fosse uma corrente de ferro, que uma vez fundido o último elo, torna-se indestrutível. O que ocorre é que quase todas as mulheres são reprimidas sexualmente, não têm coragem para romper os grilhões sociais e usam a fidelidade para castigar os homens por sua liberdade sexual, como uma espécie de vingança. Só que no final das contas são elas que ficam com o sofrimento e o gosto amargo na boca, pois são raros os espécimes masculinos que se submetem a tal condição. Elas não percebem que quanto mais tolhem o parceiro, mais eles buscam a liberdade em outros braços. Eles não querem uma carcereira, querem uma parceira, uma cúmplice e uma companheira. Homens não são cavalos de charrete para andarem com anteolhos e tampouco as mulheres deveriam ser!
O problema é que ainda temos uma visão romântica do relacionamento entre um homem e uma mulher. A Igreja, por um lado, com os seus “O que Deus uniu, o homem não separe jamais” e “Até que a morte os separe”; a literatura, por outro lado, com o “E foram felizes para sempre”, contribuem, e muito, para a cristalização dos valores. Nada contra a instituição CASAMENTO, o elemento complicador, ao meu ver, é a base sobre a qual ele é fundado. Explico melhor. As partes, quando se casam, exigem unicamente uma coisa: fidelidade. Só que esquecemos que esta “qualidade” não é natural do ser humano, é algo adquirido. Vejamos, o homem (raça), tal como os demais animais, obedece a um instinto primitivo de procriação; o homem (gênero) deve transmitir seus genes ao maior número possível de mulheres para garantir a multiplicidade e a sobrevivência da espécie. Cabe à mulher selecionar aquele que julgar mais forte e saudável para fecundar o seu óvulo, uma vez que seu processo de gestação é lento e doloroso, daí a necessidade de eleger um parceiro por vez. Porém, isso não quer dizer que este deva ser o único! Se fosse desta maneira, poderíamos ficar como na Arca de Noé e pronto: um par de cada espécie para todo o sempre. Amém!
Algumas leitoras argumentarão que, muitas vezes, os homens são os que mais exigem a fidelidade. Concordo. No entanto, o motivo que os leva a tal exigência é bem diferente do das mulheres. Nós (e me incluo apenas como gênero) depositamos a nossa felicidade no outro e com isso criamos uma dependência emocional, portanto se o nosso amado vai atrás de um outro “rabo-de-saia”, nos sentimos frustradas e fracassadas. Os homens, por sua vez, depositam na fidelidade a sua virilidade, ou seja, se suas mulheres vão para a cama com um outro, para eles é como se não fossem capaz de satisfazê-las, como se fossem meio impotentes e menos machos. A questão então é simples: nós queremos a fidelidade para nos sentirmos únicas, especiais e felizes; eles também querem a fidelidade para se sentirem potentes e viris. Pura insegurança de ambas as partes, porque todos somos especiais, únicos, sexualmente potentes e podemos ser felizes por nossos próprios méritos. Claro que com o outro é muito melhor, mas não precisamos jogar mais este peso nos ombros alheios.
O que quero demonstrar é que exigimos algo que é antinatural e, se é assim, por que impomos uma escolha única e perpétua? Será que não estamos elegendo a opção errada? Será que não seria melhor “exigirmos” do parceiro (a) lealdade em lugar de fidelidade? Não é mais desejável que a pessoa que está ao nosso lado sinta-se confortável para falar abertamente dos seus sentimentos e sensações do que forçá-la a reprimir seus instintos para satisfazer a uma vaidade? Vaidade sim, pois os fiéis são altamente narcisistas e egoístas; obrigam o parceiro a ser um reflexo de si próprios, uma vez que se acham perfeitos e não se importam se o outro está feliz com essa “opção”. Pensam que se eles podem refrear seus desejos, por que o outro não pode? “Se eu sou fiel, você também tem que ser!”. Os fiéis creem que possuem todas as qualidades do mundo e são capazes de satisfazer plenamente o parceiro e por isso acham um total desrespeito quando o companheiro olha para uma outra pessoa.
Atenção! NINGUÉM é perfeito. Ao longo da vida você pode se encantar por um sem fim de pessoas. Você pode, em uma determinada fase da sua existência, se apaixonar por alguém lindíssimo, carinhoso e generoso, mas as coisas mudam e, de repente, você dobra a esquina e conhece uma outra pessoa com características distintas que te completam melhor neste outro momento da sua vida. E agora? Você continua com o seu parceiro, mesmo sentindo-se infeliz, só porque jurou fidelidade? Ou você preferiria poder sentar com seu companheiro e dizer a ele que está se sentindo fortemente atraído por outra pessoa e tentar encontrar uma solução juntos? Logo, penso que deveríamos modificar o juramento que fazemos diante do sacerdote ou Juiz-de-Paz. Em lugar do: “Juro ser fiel, amar-te e respeitar-te na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza...”, deveríamos dizer: “Juro ser leal e verdadeiro, respeitar-te e amar-te. Ser teu(tua) companheiro(a) em todos os momentos de nossa vida, sejam eles bons ou maus até que a vida nos separe”. E de quebra ainda podíamos mudar os contos-de-fada e finalizá-los parafraseando os mais perfeitos versos do poeta Vinícius de Moraes: “E foram felizes enquanto ardeu a chama do seu amor”.
Antes que os fidelíssimos me crucifiquem, vou logo dizendo que não sou nenhuma especialista em relacionamentos, na verdade meus fracassos são mais numerosos que os meus sucessos (pois só agora estou revendo meus conceitos e soltando as amarras), mas eu aproveito o tempo em que estou sozinha para tentar compreender o mecanismo das relações. E cada erro que cometo é uma nova reflexão. Por isso, aviso que não estou me metendo a dar conselhos a quem quer que seja, estou apenas expondo minha opinião, tentando demonstrar uma nova perspectiva, um novo olhar sobre um velho tema. Quem quiser me seguir, que o faça; quem for fiel convicto, encontrou a sua metade da laranja e ambos são felizes assim, parabéns! Só peço a estes últimos que, por favor, ao iniciarem um relacionamento, perguntem ao ser amado onde ele se enquadra, pois a fidelidade pode ser um jugo pesado demais. Vou continuar preferindo a lealdade à fidelidade, não quero que a pessoa que esteja comigo seja obrigada a mentir para mim porque não consegue subjugar sua natureza. O bom da vida é ser feliz.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sexta às nove (37)

Sua dose semanal de remédio musical.



Assassinaram o Camarão. Assim começou a tragédia no fundo do mar.

Bendito o dia em que ouvi essa música na rádio. Cantei-a no chuveiro, escovando os dentes, indo e vindo... colou na cabeça. E agora ouvindo novamente para postar, confie: serão mais dias cantarolando.

E é disso que gosto na criatividade brasileira na música.

É porque adoro humor. Idiotamente, e não tenho medo de me admitir idiota no meu humor. Pois há muito deixei de ouvir "você é muito idiota" como uma ofensa. E para quem quiser também mudar a atitude em relação a idiotice, a própria e a dos outros, leia O Idiota de Dostoiévsky. Eu mesmo ainda não li, mas minha amiga me contou a história. rs

Voltanto... Aposto que essa aí vai ficar grudada na sua cabeça por muitos e risonhos momentos...

Aproveite.

Como descobrir uma amizade

Sabe aquelas vizinhas que vivem fazendo estardalhaço no corredor, gritam na janela com as pessoas conhecidas que passam na rua, espalham a correspondência e fazem festa em plena semana? Então... Essas são as minhas vizinhas de cima. Três meninas que parecem um bando de mamutes de tanta delicadeza ao andar; gralhas enlouquecidas gritando pra cima e pra baixo; papagaios tagarelas que não param de falar um minuto sequer. Quase um zoológico completo!
Essas doçuras estavam começando a nos dar nos nervos até o dia que tudo mudou. Era um terça-feira e a gritaria estava rolando solta no andar de cima quando resolvemos (eu e minha colega de quarto) responder. Elas gritavam de lá e nós de cá. Fizemos isso umas três vezes e depois veio o silêncio. Ufa! Funcionou. O prédio ficou em paz por uns dois dias, mas a situação se repetiu, como não podia deixar de ser. Imagina se elas iam parar de gritar! Não quando arrumaram mais gente pra gritar com elas! Respondemos novamente e parece que as intimidamos.
Silêncio. Silêncio. Silêncio por alguns dias. Até que as férias foram se aproximando e previmos que tudo começaria novamente. Mas dessa vez não nos importamos. As meninas que moram comigo foram passar o fim de semana na casa dos pais e chamei duas amigas da faculdade para fazer uma festinha de despedida aqui em casa. Fizemos umas cuba-libres e ligamos o som. Foi quando uma delas olhou pela janela da sala que dá para o corredor interno do prédio e viu que tinha um menino no andar de cima. A louca chamou todo mundo pra descer e, como estava conversando com outra amiga, concordei sem saber. Foi aí que conheci as meninas de verdade.
Três. E um amigo. Todos entraram e começamos a conversar, beber e nos conhecer depois de uns 2 meses de vizinhança. Gente legal, divertida. Estudantes da mesma faculdade e passando pelas mesmas coisas que nós. Achamos muita coisa em comum e a partir daí começamos a não implicar mais com as barulhentas.
Na semana seguinte comemos pizza juntas, depois convidamos para umas festas – tá certo que nem elas foram nas nossas, nem vice-versa, mas a intenção era boa, juro! Até que no carnaval decidimos sair juntas e deu super certo. Rimos muito, bebemos, curtimos como se nos conhecêssemos há muito tempo. Pelo menos foi assim pra mim. Até fizemos uma festinha no apartamento delas e fugimos da polícia – afinal, era quarta-feira de cinzas e estávamos com o som alto; nem tão alto a ponto de incomodar alguém, mas sabe como é vizinho né?
Depois de tudo isso, o que tenho a dizer é que vizinhos podem ser inconvenientes de vez em quando,mas foi essa "chatice" que me proporcionou uma amizade que quero levar pelos meus ainda restantes anos de faculdade nessa cidade louca de controvérsias.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Segundas de Literatura XVI

Encontrei um vídeo fantástico!

Um manifesto e faço dele o meu. BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS. Coloco no maiúsculo por uma questão de respeito.

O que ele diz aqui é muito pertinente. Eu, de uma maneira muito velada, já promovia aquilo que ele aqui transforma em uma frente, em um front, em uma maneira de se fazer o objeto do livro um elemento de circulação além-escola.

Eu sempre fui um defensor da literatura - haja vista até esse meu blog ser composto tanto por amigos escritores e alunos meus que se mostraram serem feras na arte da escrita.

Deem uma boa olhada nesse vídeo, vale a pena ser divulgado em todos os blogs do mundo!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Não há mais samba como antigamente

Tentei acompanhar um pouco dos sambas-enredo que foram compostos para esse ano. Uma coisa curiosa percebi, somente os integrantes que acompanham o dia-a-dia das escolas é que chegam a decorar os refrões e as batidas das últimas composições. Hoje não existe mais aquela canção, aquela letra que se gruda e ultrapassa o limite do período do carnaval e passa a se tornar marchinhas, música mesmo, algo do cotidiano da nossa MPB,e não somente uma alegoria do espetáculo. Não vejo como um problema dos compositores – até porque, alguns ainda são os mesmos de todos aqueles bons sambas – mas o espetáculo se tornou tão visual, mas tão visual, que tudo que não é imagem passou a ser um mero detalhe, um elemento qualquer.
Isso já é algo até de minha época de garoto. Muitos até viam as grandes apresentações na tentativa de ver uma mulher pelada. Eu lembro que ficava acordado até tarde, tarde mesmo, só para ver aquelas mulheres lindas e desinibas demais sambando somente com uma pintura no corpo. Era maravilhoso. É até mesmo daquela época que destaco três sambas que até hoje, quem puxar o refrão, vai conseguir cantar boa parte ou até mesmo a letra como um todo.
A primeira delas: União da Ilha do Governador, num samba de homenagem a Didi, o poeta popular. É um letrão de primeira.

De bar em bar, Didi um poeta
Autor: Franco
Hoje eu vou tomar um porre
Não me socorre eu tô feliz
Nessa eu vou de bar em bar
Beber a vida que eu sempre quis
E no bar da ilusão eu chego
É pura paixão que eu bebo
Amor me deseja, me dá um chamego
Me beija e me faz um cafuné
Bebo vem e bebo vai
Que nem maré
Balança mais não cai
Boêmio é
Garçom! Garçom!
Bota uma cerva bem gelada
aqui na mesa
Que bom! Que bom!
Minha alegria deu um porre na tristeza
Poeta enredo da canção
Cartilha que eu aprendi
Canta Ilha de emoção
Saudades de você, Didi
Amor! Amor! Eu vou
É nessa aqui que eu vou
O sol vai renascer o meu astral
Amor! Amor! Eu vou
Ô Esquindô! Esquindô!
Num gole eu faço um carnaval

Isso sabe ser letra de samba. E sabe muito! Até hoje me pego cantando do nada. Foi ela responsável por um certo amor que tenho à União da Ilha, primeiro até pela letra mesmo, segundo por ter sido criado por lá, no Tauá – que saudades que eu tenho (o resto você completa)

Agora, outra letra boníssima é uma de 1992, Sonhar não custa nada, ou quase nada! Essa tem gente que canta até hoje tomando banho. Eu, por exemplo.

Sonhar não custa nada
O meu sonho é tão real
Mergulhei nessa magia
Era tudo que eu queria
Para ese carnaval
Deixe a sua mente vagar
Não custa nada sonhar
Viajar nos braços do infinito
Onde tudo é mais bonito
Nesse mundo de ilusão
Transformar o sonho em realidade
E sonhar com a mocidade
E sonhar com o pé no chão
Estrela de luz
Que me conduz
Estrela que me faz sonhar
Amor, sonhe com os anjos (não se paga)
Não se paga pra sonhar
Eu sou a noite mais bela
Que encanta o teu sonho
Te alucina por te amar (amar, amar)
Vem nas estrelas do Céu
Vem na lua de mel
Vem me querer
Delírio sensual
Arco-íris de prazer
Amor, eu vou te anoitecer
Eu vejo a lua no céu
A mocidade a sorrir
De verde-e-branco na sapucaí

Esse samba aí era de pular muito. Eu me amarro até hoje. E pensar que já possuem quase vinte anos. Então olha essa que agora coloco, samba-enredo de 1993, da Salgueiro.

Lá vou eu...
Me levo pelo mar da sedução (sedução)
Sou mais um aventureiro
Rumo ao Rio de Janeiro
Adeus, Belém do ParáUm dia volto, meu pai
Não chores pois vou sorrir
Felicidade o velho Ita vai partir
Oi no balanço das ondas... Eu vou
No mar eu jogo a saudade... amor (bis)
O tempo traz esperança e ansiedade
Vou navegando em busca da felicidade
Em cada porto que passo
Eu vejo e retrato, em fantasias
Cultura, folclore e hábitos
Com isso refaço minha alegria
Chego ao Rio de Janeiro
Terra do samba, da mulata e futebol
Vou vivendio o dia-a-dia
Embalado na magia
Do seu carnaval

Explode coração
Na maior felicidade (bis)
É lindo o meu Salgueiro
Contagiando, sacudindo essa cidade


Esse Explode Coração, Na maior felicidade, É lindo o meu Salgueiro, caceta, é de arrepiar. São sambas, todos eles, de letras simples até demais, nada de rodeio, muita rima ou palavras bonitas, todo o experimentalismo modernista em explosão popular – como tais queriam – e que merecem ser lembrados sempre.

Aí Cerestino, ainda no desafio, naquela nossa Guerra Declarada, escolhe um para sua coluna aí e manda brasa. Eu tô aqui sambando no teclado. Desafio até todos, se souberem de alguma letra de qualidade, dessas mais novas, por favor, mandem para um eterno duelo pela qualidade brasileira. Sabe, sendo sincero, não me entristeço por esse declínio, tudo é fruto das eternas quebras de paradigmas – nosso clichê moderno – e que faz com que nos retoquemos, busquemos o novo e nos dê chance para criar o simples no moderno excessivo. Espero que uma dia consigamos.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Segundas de Literatura XV

Sei, sei, era para ser apenas escritores brasileiros ou de Língua Portuguesa. Vou ser sincero, eu só iria abrir aos estrangeiros assim que eu sentisse que estava perto de um esgotamento de boas imagens de escritores brasileiros ou de Língua Portuguesa.

Mas eu li o último livro desse cara.

Dan Brown,

e gostei!

Por isso tô passando para vocês!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Um pouco de minha explicação à Epopeia.

Prometi a muitos aqui que iria sempre que pudesse colocar as evoluções do meu texto Epopeia Insignificante, mas tenho que afirmar que vou usá-lo diretamente em minha outra coluna literária, aquela que me exige realmente – até por questões empregatícias – colocar um texto por semana. Por sorte, mudaram o ritmo para textos de quinze em quinze dias, o que me dá mais um fôlego, mas eu vou deixá-lo exclusivado por lá. Não é uma preterição aos leitores daqui, na verdade é apenas uma forma de dar um novo ar à coluna que lá coloquei com o mesmo nome do texto.
É um teste, para ser sincero. Muitos dos meus leitores são amigos próximos, pessoas que gostam de mim tanto por aquilo que transpareço como pessoa e até mesmo como escritor. São amigos que entendem as idiossincrasias das minhas palavras, das minhas frases e contextos. Que gostam, que afirmam o que gostam e o que não suportam, me falam com um toque de delicadeza e sinceridade que me move, me faz dar rumo ao texto. São até mais do que amigos na literatura – são editores indiretos de minhas frases. Nada que isso me seja ruim, ao contrário, querendo ou não, sempre escrevemos em prol do sorriso coletivo, do nosso coletivo. Primeiro o escritor escreve para si, depois para os amigos, como os amigos já me norteiam, eu preciso do desconhecido.
Não fiquem chateados, sei que pode até parecer pedante eu estar escrevendo isso aqui, mas eu não me sentiria confortável se eu não dissesse tais palavras. Mesmo. Não somente por vocês serem o que são, mas por realmente eu me importar com as minúcias. Essas minhas idiossincrasias epopeicas, também para lá de insignificantes.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sexta às Nove (36) - O Retorno de Jedi

Sua dose semanal de remédio musical.









Geni e o Zepelim.

Adoro música brasileira. E aproveito para fazer um jabá de uma rádio que gosto muitíssimo de ouvir: MPBfm, 90,3. Sim, ela repete muito as músicas, mas isso não tira seu mérito. Ouçam-na.

Mas antes, voltemos nossa atenção à essa obra prima.

Fazia muito tempo que eu não ficava embasbacado com uma música. Que meu cérebro não dedicava horas a fio num deslumbramento quase mágico. E foi assim que me peguei, depois de ouvir da história de Geni. Essa dama, essa Santa, esse poço de bondade, essa fonte de amor, essa que desde menina atende aos que não poderiam mais, aos que ninguém mais quereria, aos que são motivo de desdém... Mas também temi. Temi ao ver-me nas vozes da cidade, que repetia:

"Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"

Afinal. Nós somos os que julgam, o que pegam as pedras. Levantar, enfrentar a multidão irracional e desafiar: "quem não tiver pecado atire a primeira pedra" é coisa Divina.

Sim, quiçá um dia termos esse coração, mas adimitamos, nós somos os que pegamos as pedras. E mais, somos os que mudamos por completo o discurso quando:

"Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir"

 E que ficamos surpresos quando Geni negou tal proposta. E que nos desesperamos diante da nossa própria desventura, e pra salvar nossa pele, fomos à ela, beijamos sua mão, choramos e imploramos:

"Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni"

Só pra, logo depois, mal amanhecendo o dia, assim que nosso instinto animal percebeu a ausência do perigo, deixarmos nossa índole florescer livre:

"Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"

Chico cantou nossa própria história. Cantou nossa essência.

PS1: pessoalmente me considerei um fãzinho de merda do Chico por não conhecer essa música ainda... Mas realmente o Chico Buarque veio a fazer parte de meus sonhos musicais a pouco tempo.
PS2: É um ótimo vídeo-game.
PS3: É um sonho de consumo.
PS4: Pelo fato d'eu estar reassistindo a trilogia de "O Senhor dos Anéis", o título seria "Sexta às Nove (36) - O Retorno do Rei", mas eu achei que seria muito presunçoso... e optei por algo menos explícito, porém não menos foda! rs

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Segundas de Literatura XIV

Adélia Prado



Nas palavras de Drummond:

"Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis".

Não precisa de muito.

Fenomenal! Ela vale muito a pena ser lida. É um conselho mesmo. Tal qual Cora Coralina!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Música às nove(35)

Tá lá no Wikipedia

O blues é uma forma musical vocal e/ou instrumental que se fundamenta no uso de notas tocadas ou cantadas numa frequência baixa, com fins expressivos, evitando notas da escala maior, utilizando sempre uma estrutura repetitiva. Nos Estados Unidos surgiu a partir dos cantos de fé religiosa, chamadas spirituals e de outras formas similares, como os cânticos, gritos e canções de trabalho, cantados pelas comunidades dos escravos libertos, com forte raiz estilística na África Ocidental. Suas letras, muitas vezes, incluíam sutis sugestões ou protestos contra a escravidão ou formas de escapar dela.
Semana passada mostrei uma música de Blues, bem característica mesmo.
Hoje, resolvi trazer a mais famosa delas, e uma das mais gostosas também.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Segundas de Literatura XIII

Nélida Pinõn



Escritora da Academia Brasileira de Letras.
Cadeira número 30, que já pertenceu a Aurélio Buarque de Holanda.
É daquelas que afirmam que Literatura é uma forma de atingir o lado mais instintivo da humanidade, da vida, da essência unilateral das coisas.

Li recentemente A Doce Canção de Caetana, que ganhei da própria, por intermédio de Antônio Torres. O livro é uma demonstração de paixões do passado, daquela nostalgia que remete à nossa questão de vida, dos fogos, das paixões, do prazer de se estar vivo.

Ah, foi a Primeira Presidente da Academia Brasileira de Letras.

Destaquei essas afirmações, quase que aforismos, da entrevista que aqui concede.

“Me impressiono como esses pais tradicionais, amorosos, me deram o dom da liberdade.”

“Eu desenvolvi o gosto da solidão desejada, não dessa que nasce no repúdio.”

Lindo, não?

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