Enquanto Portas e janelas se fecham
se não fizermos, quem fará por nós
Fatos e formas nos confundem
À base de remédios eu fico feliz
Mas mesmo assim portas e janelas não se abrem
Mas o que vale é a imagem
Quando se de cabo minha existência
E meu último dia se foi
Muito de mim se reconstruiu
Naqueles que por lá estavam
Mas a sombra daquela hora
que se cria em sangue parado
pouco seria justificado
se muito daquilo fosse revivido
Passamos horas lembrando
momentos bons de um passado belo
mas pouco vivemos de um presente eterno
a certeza da vida que pode ser criada
Damos preferência pela nostalgia
e pouco da vida se cria
preferimos os romances do passado
às histórias de agora
É como se não tivéssemos o direito
de criar dias que sejam perfeitos
o mundo roda pelo próximo dia
mas apenas queremos guardar o passado da família
História só é bela quando se justifica
passado de glória e certeza da vida
mas o presente é o refelxo da mais valia
que devemos ter hoje
Mas para mim meu hoje é retrato de lápide
e por mais que cada passo seu aja
saberei que ali se faz a eterna casa em laje
nos seus olhos, o concreto cerceia minha última mortalha
(Mais uma poesia minha, numa tentativa de achar que pode escrever. Uma boa tentativa, eu penso - façam os comentátios necessários)
Ah! A nostalgia. Como é bom saborear o passado. Pena nunca haver uma maneira de revivê-lo ou estipular uma forma de ele sempre se fazer vivo, a não ser pela lembrança. Nostalgia é apenas sensação e nada mais.
Um dia desses lembrei-me de meu pai tentando me ensinar a soltar pipas; Sou daquela geração vítima dos prédios e das cercas sociais e meu contato com a poeira da infância e com as fajutices das bobas discussões sobre uma falta não-marcada nunca me aconteceram. Na verdade, nem bola sei jogar. E também me foi sublimada a pipa. Porém, a lembrança do meu pai tomando conta da situação é que quase me fez chorar por pouco ter percebido naquela época como aquilo me foi bom. Não tenho pretensões de ir aprender a empinar pipas, mas sei que ali não era meu pai, era o antigo menino na carapuça de adulto.
Lá de cima do apartamento, minha mãe gritava o ridículo de um velho soltando pipas enquanto devia ensinar. Até parecia que o velho tinha me roubado um doce ou algo pior. Mamãe não percebera que não era papai, era um garoto que eu nunca teria chances de conhecer, a não ser pelas nostalgias do meu coroa. Aquela era uma boa lembrança.
A nostalgia é o romantismo tomando as rédeas, a saudade em forma de escapismo. Porém, não como fuga de uma realidade ruim, posto que todas as realidades sejam ruins, mas é através desta mesma realidade que devemos dar chances para as nostalgias – ruins ou não, inventadas ou não – pois sem realidade não há vontade para as tais.
Penso que uma pergunta tenha vindo de surpresa àqueles que me leem agora. Como a realidade pode ser ruim, já que gera boas lembranças? Perceba – e agora faço jus ao didatismo fruto de minha profissão -, pense em um dia de futebol e churrasco com os amigos. Aquela boa cerveja, aquela carnezinha no ponto certo, tudo da mais singela perfeição. Uma hora o futebol acaba, a cerveja não mais existe e a carninha não mais está lá. Tudo é posto ao fim, a um limite, a um claro término. É a morte em instantâneo de câmara fotográfica, estático e limitado. Mas como uma foto, a realidade gera lembrança, e aí reside a beleza dos fatos, a veeméncia da vida. Este passado que cutuca o coração e se brota em um sorriso bobo. E não precisa de muito para as nostalgias. Às vezes, um belo por do Sol já basta.
Por isso, não recrimino mamãe pelo que fez. Ela apenas trouxe papai para o nublado da certeza de sua obrigação, o plúmbeo gosto de sua idade e razão de estar ali, mas ela me deu margem para ver que a vida se vive até ontem e que hoje é só uma chance a mais para criar vida. E ponto final.